Pesquisador da Embrapa ressalta que apenas 10% de todo o país faz manejo com rotação de culturas corretamente e destaca os ganhos que a técnica traz.
Quase todo o produtor brasileiro garante fazer uso da técnica de plantio direto em sua propriedade. Só que a realidade não mostra isso. Durante a palestra que apresentou no Fórum Soja Brasil, em Não-Me-Toque (RS), o pesquisador da Embrapa Henrique Debiasi mostrou que apenas 10%, ou menos, faz a rotação de culturas (ao invés da sucessão soja/milho/trigo). O resultado? Baixas produtividades, erosões e invasão de pragas e doenças.
“Acredito que apenas uns 10% dos produtores do país usem o sistema plantio direto como a pesquisa preconiza. Se perguntar, a maioria diz que faz o plantio direto, mas na verdade poucos seguem a risca o manejo correto. Esse montante, se bobear, pode ser até menor. Estou sendo otimista”, destaca ele.
Segundo Debiasi, o resultado dessa baixa adoção do sistema em sua plenitude, com a rotação de culturas, mínimo revolvimento do solo e cobertura permanente da superfície do solo, é a quantidade de relatos de erosão em todo o Brasil. “Mesmo em áreas planas isso está acontecendo. O Paraná, que já foi um estado exemplar nos cuidados com o solo, já perdeu essa qualidade e, os casos por lá estão se multiplicando”, ressalta.
Outro problema relatado é a limitação da produtividade. Para o pesquisador, as cultivares que existem no Brasil hoje poderiam render uma produtividade muito maior e com redução de custos. Algumas regiões estão gastando quase R$ 50 por saca para produzir soja.
“Por isso, um bom manejo do solo, além de contribuir para uma melhor produtividade, traz redução nos custos, o que melhorará a rentabilidade”, garante.
Debiasi destaca o papel da matéria orgânica no solo, que só com a rotação de culturas e manejo é que se consegue um resultado adequado. “Isso não vem em uma bag, é preciso produzi-la. Observamos que é possível aumentar de 12 a 15 sacas de soja a cada 1% de matéria orgânica acrescentada. Sem falar que isso ainda irá gerar uma economia no uso de adubo fosfatado”, explica ele.
Um fato destacado por Debiasi é que o produtor precisa ter planejamento e visão de sistema, que nada mais é do que uma percepção a longo prazo de todas as práticas e produções. “Pode até sair menos caminhões carregados com milho da lavoura, se ele plantar uma parte com outra cultura. Mas, isso é a curto prazo. Lá na frente, o valor que se ganhará com redução de custos e produtividade, compensam essa perda inicial. E depois de realizado, o produtor só terá ganhos”.
Ele garante que isso não é uma suposição ou estimativa, já que as pesquisas comprovaram os ganhos. “Isso não é achismo. Nós testamos tudo, fizemos experimentos e os resultados foram de R$ 200 a R$ 300 a mais por hectare de lucro. Isso mantendo a soja na safra verão e, no inverno, ao invés de se fazer apenas o milho, trigo ou pousio, coloca-se braquiária ou milheto”, explica.
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Além da manutenção da matéria orgânica no solo, a palestra do pesquisador também deu ênfase a importância do enraizamento no sistema. “Não da soja, mas sim das demais plantas que compõem o sistema de plantio direto. Temos pesquisas aqui na Embrapa que comprovam que a raiz da braquiária é mais importante que a própria cobertura, já que ela melhora a parte física do solo, aumentando a infiltração e retenção de água”, garante Debiasi.
Segundo ele, em comparação ao pousio (quando não tem nada na área), que ainda é uma realidade em muitas áreas, como no Matopiba, observou-se que a produtividade dobrou usando a braquiária. “Na verdade não aumentou a produtividade, deixou de perder apenas, já que o pousio não traz nada de bom para aquela área. Deste incremento, 70% foi trazido pelas raízes e 30% pela palha”, conta.
Esse manejo ideal, com enraizamento, palha e diversificação também traz uma boa economia com herbicidas, garante o pesquisador. “O produtor chega a economizar R$ 130 por hectare, só pela redução da buva e do capim amargoso. Isso porque essas plantas daninhas precisam de luz para se desenvolver e como a braquiária deixa muita palhada, as invasoras não tem o melhor ambiente para germinar e se fortalecer. Isso em tempos de resistência é um ganho inestimável”, ressalta.
Por: Daniel Popov
Fonte: Sucesso no campo