As negociações para um tratado de livre comércio entre Mercosul e União Europeia avançaram menos do que o governo brasileiro esperava.
Ao chegar a Bruxelas na manhã de quarta-feira para participar da cúpula Celac-União Europeia, a presidente Dilma Rousseff esperava marcar para 18 de julho a troca de ofertas entre os dois blocos.
Para que o acordo seja fechado, é preciso que cada um diga quais produtos poderiam ser incluídos nas negociações e em quais condições.
Porém, Dilma vai embora de Bruxelas nesta quinta-feira sem data marcada para que a troca de propostas ocorra, mas negou que deixe a cúpula com um sentimento de frustração.
“Não saio frustrada, isso não significa que não terá data. Nós fazemos a proposta e eles têm de olhar as condições deles e fazer a mesma proposta”, afirmou a presidente.
O ministro brasileiro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse que o Mercosul e a União Europeia decidiram trocar ofertas tarifárias “até o último trimestre do ano”.
Argentina
Dilma negou que o Brasil tenha perdido a paciência com a Argentina – que resiste à abertura para proteger sua indústria.
“Essa é visivelmente uma conversa, eu diria, que acha que a culpa sempre é dos latino-americanos. Não é trivial em lugar nenhum fazer um acordo comercial”, afirmou, lembrando que a União Europeia é composta de diversos países, que precisam fazer suas discussões internas.
Mesmo assim, diplomatas ainda dizem que as eleições argentinas foram o principal motivo para que as negociações fossem adiadas.
O pleito ocorre em outubro e a proteção da indústria nacional é uma bandeira da presidente Cristina Kirchner, que por isso, resiste ao acordo com a UE. A ideia é esperar para que a negociação seja fechada com o novo presidente.
A discussão dividiu até mesmo o governo brasileiro: enquanto alguns diplomatas e integrantes do governo defendiam que se aguardassem as eleições argentinas, outros queriam que o acordo saísse o mais rápido possível.
Europa
A representante da União Europeia afirmou, porém, que nenhum dos blocos está pronto para o acordo.
“Ninguém está pronto ainda, por isso decidimos que esperaremos até o último trimestre”, afirmou a comissária europeia de Comércio, Cecilia Malmström.
Segundo ela, o bloco europeu quer assegurar que o “nível de ambição” do Mercosul esteja à altura de suas expectativas.
O acordo de livre comércio começou a ser discutido em 1999. As negociações estão paradas desde 2010.
Para a União Europeia, a agricultura sempre foi um tema sensível, que o bloco tenta proteger.
Os países do Mercosul insistem que seja incluído no acordo a revisão da política de subsídios concedidos aos produtores europeus, os quais dificultam a venda, na Europa, de produtos do bloco sul-americano.
Para os países do Mercosul, o problema era a entrada de produtos industrializados europeus segundo as condições exigidas pelos representantes da UE.
O Brasil tenta, no momento, destravar as negociações tanto para contornar a crise, que obriga o país a procurar novos mercados, quanto pela estagnação do crescimento das trocas agrícolas e pelo enfraquecimento da indústria nacional.
Baseado em um estudo publicado pela FGV, o governo brasileiro estima que, com o acordo, as exportações brasileiras para a Europa cresceriam 20%.
Declaração
A cúpula UE-Celac terminou nesta quinta-feira com a publicação da “Declaração de Bruxelas”, na qual os líderes europeus, latino-americanos e caribenhos expressam apoio ao processo de paz na Colômbia e pedem “novos passos que levem ao rápido fim do embargo a Cuba”.
O documento de 50 páginas não condena explicitamente as sanções dos Estados Unidos contra a Venezuela, como queriam os países latino-americanos, mas faz alusão ao caso.
“Reafirmamos nossa decisão de apoiar a igualdade soberana de todos os Estados, respeitar sua integridade territorial e independência política, e nosso compromisso de evitar, nas relações internacionais, o uso de ameaças e de força”, diz o texto.
A UE e a Celac também decidiram deixar para traz seu antigo modelo de cooperação ao desenvolvimento e dar mais atenção à cooperação científica, tecnológica e em educação superior.
Fonte: Uol