O relógio marcava 10h de terça-feira (17). Uma aula de alongamento havia acabado de terminar em uma academia da Glória, Zona Sul do Rio, e estava prestes a começar mais um módulo de balé clássico. Na turma de sete alunos, o corpo esguio e os cabelos brancos de Hélio Haus, de 80 anos, chamavam atenção. Munido de meia-calça e sapatilha preta, ele se posicionava na classe para a terceira das cinco aulas que faz por dia.
Seu Hélio, aposentado e sem filhos, contou que começou a fazer balé clássico aos 75 anos. O motivo? Fazer algo que ele sempre quis e nunca teve chance. “Eu me sinto vivo, atuante, fazendo alguma coisa que eu sempre quis fazer. É um pouco tarde, sim, mas não tarde demais.”
Saúde também conta, lógico. “Eu não quero ser refém de consultório, eu não acho engraçado nenhum tipo de remédio, doença, nada”, diz ele. “Eu quero ter saúde, e isso pra mim também é saúde.”
Morador de Copacabana, ele se formou em Direito, nunca exerceu a profissão e atuou como vendedor a maior parte da vida. Carregava o peso das toalhas de banho que vendia pelas ruas da Zona Oeste carioca e credita a isso sua atual ótima forma física. Quando se aposentou, resgatou uma paixão antiga, a dança.
“A gente não chega um belo dia, acorda e diz: ‘Vou fazer balé’. Tem uma história. Eu sempre gostei, sempre frequentava o Theatro Municipal. Mas não tinha coragem, a vida biológica e a emocional não andam juntas. Tive que fazer minha vida e quando adquiri estabilidade disse: ‘É agora’. “
Fonte: G1