Documentos revelam que bispo e padres reconheceram o ‘sumiço’ de R$ 910 mil do caixa da Diocese de Formosa

Documentos obtidos pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) apontam que alguns dos religiosos acusados de desvios de dízimos reconheceram a ausência de R$ 910 mil nos caixas das igrejas. O órgão acredita que o padre Waldson José de Melo, de Posse, o monsenhor Epitácio Cardozo Pereira e o bispo Dom José Ronaldo embolsavam os valores declarados como “desaparecidos”.

Um dos documentos, assinado pelo monsenhor Epitácio Cardozo, aponta o déficit de mais de R$ 72 mil, acumulado em 2016, no caixa da Paróquia Divino Espirito Santo, em Planaltina de Goiás, no Entorno do Distrito Federal.

Outro relatório, este assinado pelo padre Waldson e pelo bispo Dom José Ronaldo, aponta a ausência de R$ 274 mil do caixa da Paróquia Sagrada Família em Posse, no nordeste de Goiás. O montante deveria ser resultado do acúmulo das arrecadações em 2015.

Segundo o MP-GO, faltaram ainda R$ 207 mil, que também deveriam ser o saldo de 2015, mas da Paróquia do Divino Espirito Santo, em Planaltina de Goiás, no Entorno do Distrito Federal. Por fim, o órgão aponta que “sumiram” outros R$ 357 mil do caixa da Paróquia Santana, em Posse.

“Dois documentos são referentes ao monsenhor, outro ao padre Moacyr, da catedral de Formosa, e outro do padre Wladson, de Posse, com quem foram encontrados R$ 400 mil na conta. Foram três desvios de somas bastante voluptuosas, inclusive com assinatura do bispo, atestando que tem ciência do documento, do desaparecimento do dinheiro”, disse o promotor responsável pela investigação, Douglas Chegury.

Conforme o promotor, os documentos já fazem parte da denúncia aceita pela Justiça, portanto, os citados estão respondendo pelo crime de apropriação indébita.

Operação Caifás

Deflagrada pelo MP-GO, a Operação Caifás apura o desvio de R$ 2 milhões pela Diocese de Formosa. No último dia 19 de março, nove pessoas foram presas. Além do dízimo, a apuração apontou que o grupo se apropriava de dinheiro oriundo de doações, arrecadações de festas realizadas por fiéis e taxas de eventos como batismos e casamentos.

As investigações sobre o desvio começaram no ano passado, após denúncias de fiéis. Eles afirmaram que as despesas da casa episcopal subiram de R$ 5 mil para R$ 35 mil desde a chegada do bispo Dom José Ronaldo, em 2015. Na ocasião, o clérigo negou haver irregularidades nas contas da Diocese de Formosa.

Escutas telefônicas autorizadas pela Justiça foram usadas na apuração. O grupo teria comprado uma fazenda de gado, carros de luxo e uma lotérica com os recursos. A operação culminou com apreensões em Formosa, Posse e Planaltina. Durante as apreensões, foi encontrado dinheiro escondido em fundo falso de armário.

Após menos de um mês detidos em uma ala isolada do recém-inaugurado presídio da Formosa, os presos foram liberados por habeas corpus concedidos pela Justiça. Na saída da cadeia, o bispo Dom José Ronaldo, outros quatro clérigos e dois empresários foram recebidos com festa por parentes e amigos.

Bloqueio de bens

O juiz Fernando Oliveira Samuel, da 2ª Vara Criminal de Formosa, determinou em 27 de março o bloqueio de bens dos seis clérigos, dois empresários e do secretário da Cúria. O limite é de até R$ 1 milhão por cada. Também foi autorizada a quebra do sigilo bancário e fiscal dos acusados.

Gestor temporário da Diocese de Formosa nomeado pelo Papa Francisco e arcebispo de Uberaba (MG), Dom Paulo Mendes Peixoto criticou o bispo preso e disse que recebeu “caixa vazio e com dívida”. Ele auxiliará nas atividades da paróquia da região até que seja nomeado um novo bispo.

A polícias apura outras acusações que surgiram contra o bispo fora do processo. Entre elas, está o uso de cartões da Igreja para compra de bebidas alcoólicas. De acordo com boletim de ocorrência, houve gasto de R$ 4 mil indevidamente.

Além disso, fiéis afirmam que Dom José Ronaldo aumentou em até 400% taxas de casamento quando assumiu a administração, em 2014. As mesmas informações chegaram ao MP-GO) por meio do depoimento de um dos padres que denunciou o esquema, mas, segundo o promotor, ainda não compõem uma apuração específica.

Fonte: G1

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