Elie Horn, de 74 anos, acomoda-se na cadeira, pede um suco de laranja e logo diz: “Quer perguntar primeiro sobre política? Porque vou falar muito pouco sobre política”. O bilionário fundador da incorporadora Cyrela, que assumiu o compromisso de doar a maior parte de sua fortuna, prefere falar de filantropia. O que não significa que não tenha suas ideias para o País.
Para ele, tem de haver um recomeço, uma espécie de “reestruturação”. Horn acredita que, para o País voltar ao rumo, é necessário pensar numa espécie de anistia para políticos. “Muitas vezes, procurar o passado não vai ter fim. Pega um ponto zero e começa a viver com regras novas, rígidas.”
Pessimista em relação à economia, diz não temer as eleições. Declara-se de centro-direita, mas diz não saber qual o melhor candidato. No momento, dedica-se ao lançamento da Plataforma do Bem, que ajudará iniciativas de filantropia em diversas áreas no País.
Como vê a economia este ano?
O ano está perdido. É um problema político mais do que outra coisa, infelizmente. Mais um ano perdido. Não aprovar a reforma da Previdência foi muito triste. O País terá problemas sérios no futuro. Esse governo fez muita coisa boa, não teve chance de continuar. Se acabou, não sei. Falarei pouco de política. A única opinião minha que vale é sobre o bem.
A política não pode ser usada para fazer o bem?
Com certeza. Só que tem de haver recomeço total, uma espécie de reestruturação do País, com regras novas. Temos de partir do zero. Muito melhor do que corrigir com emendas. Muitas vezes procurar o passado não vai ter fim. Pega um ponto zero, esquece todo o passado e começa a viver com regras novas, rígidas. Daqui em diante, quem infringir terá problemas, punições. Não se consegue consertar tudo. É impossível. Então, corta: hoje é hoje e ontem já morreu.
O sr. fala numa anistia aos erros de políticos e empresários?
Empresários nem tanto, porque não têm tanto poder. Quem tem poder são políticos.
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Uma forma de pacificar o País?
De evoluir o País. Precisamos acabar com a pobreza, a ignorância. Isso só virá se o País crescer e o País só crescerá com mudanças nas regras. Temos de acabar com antagonismo, vinganças. Tem de ter espírito nobre de evoluir sem mágoas.
Não deixaria sentimento de impunidade?
É uma solução. Não é a única. Mas temos de evoluir, ter ideias. Cada dia que passa há crianças morrendo de fome, de doenças. Isso não pode ser permitido. Qual a solução? Acabar com tudo isso. Mas eu preferia falar sobre o bem. Com algumas pessoas, estamos fazendo a Plataforma do Bem. Teremos 20 embaixadores, cada um com uma missão, e vamos tentar chacoalhar a sociedade. Faremos a ponte direta entre doador e receptor. Os custos de administração serão absorvidos pela comissão gestora. Se um real for doado, alguém receberá um real. No começo, as doações virão dos gestores. Lançaremos em agosto.
Como fazer o bem na política?
Dá para fazer mudando as leis a favor do bem. Faz pouco tempo, num jantar com políticos – não vou citar nomes –, pedimos leis que ajudem a combater a pobreza e o abuso sexual.
Já não existem essas leis?
Não o bastante. Exemplo: ajudar pessoas ricas a doar mais. Tem de incentivar alguns impostos, obrigar empresas a doar para filantropia, para o bem dos funcionários ou dos que moram na mesma cidade. Roberto Setubal (presidente do conselho de administração do Itaú Unibanco) comprou um apartamento e havia diferença de preço (entre o que Horn pedia e Setubal oferecia). Disse a ele que desse a diferença para caridade. No dia seguinte, ele mandou o recibo. Isso é fazer o bem.
Os empresários resistem?
Falta conscientização. Tentei convencer vários para o The Giving Pledge (movimento de bilionários que se comprometem a doar a maior parte de sua fortuna). Ainda vou conseguir alguém. Não é fácil.
Ricos têm de fazer mais filantropia ou pagar mais impostos?
Ter mais impostos faz mal ao País. Frustra a liberdade de negócios. No mundo moderno, quanto menos impostos, melhor. Agora, tem de fazer o bem. O problema não é tributo, mas como é gasto. O País tem de ser melhor gerido. Menos impostos e mais contribuição. Acredito na livre iniciativa.
Teme o desfecho das eleições?
Tivemos uma crise grave no setor imobiliário. Dizem que foi a pior. Falam o mesmo das eleições. Não acho. Em 2002, foi pior. Não houve problema, porque Lula passou a ser um gestor democrático, liberou bastante as regras dos negócios. O País balança, mas não cai. Aprendi a não ter medo.
O sr. tem candidato?
Segredo político. Sou antirradical e antiextremismo.
Qual seria o melhor desfecho?
Um presidente que faça leis a favor do liberalismo, que acabe com a miséria. Qual é esse candidato? Não sei ainda.
O sr. se considera de direita?
Direita-centro-social. Sou a favor de tudo para ajudar as pessoas menos favorecidas. A esquerda tem extremismos. Tem o senhor na Venezuela (Nicolás Maduro), que é de esquerda e ama a miséria. Prefiro a direita dos Estados Unidos à esquerda da Venezuela.
Fonte: estadao.com