Um homem carrega nas costas um painel com a imagem do ex-presidente Hugo Chávez. A foto foi retirada do Parlamento venezuelano nesta quarta-feira (6), junto com qualquer vestígio gráfico dos 17 anos de hegemonia chavista no Legislativo.
Tão logo tomou posse como nova maioria na Assembleia Nacional, ontem, a oposição ordenou a remoção de cartazes e quadros que retratavam Chávez em momentos como seu último ato multitudinário debaixo de chuva, ou na tribuna das Nações Unidas, onde, referindo-se ao então presidente americano, George W. Bush, afirmou: “cheira a enxofre!”.
“Olha o que estão fazendo com a gente. Nunca vão acabar com a revolução!”, grita um homem, quando vê a retirada das imagens nos arredores do Palácio Legislativo.
O prédio amanheceu cercado de militares e de policiais para impedir a circulação de pessoas pela entrada da Assembleia.
Oliver Blanco, assistente do novo presidente do Parlamento, Henry Ramos Allup, mostra a um grupo de jornalistas um vídeo gravado logo cedo, no qual se vê o deputado na retirada das imagens de Chávez.
“Não quero ver um quadro aqui que não seja o retrato clássico do Libertador. Não quero ver Chávez, ou (Nicolás) Maduro, levando toda essa coisa para o Miraflores (sede do Executivo)”, ordenou Ramos Allup.
Em outro trecho do mesmo vídeo, que circulou pelas redes sociais, Ramos Allup ironiza: “que levem para Sabaneta”, em alusão à terra natal do ex-governante Chávez no estado Barinas, sudoeste do país.
Quase entre murmúrios, alguns funcionários da Assembleia disseram à AFP que as imagens de Chávez deviam ser resguardadas como “patrimônio nacional”, enquanto outros comentavam que iriam parar em La Bonanza, o aterro sanitário de Caracas.
Repórteres da AFP constataram que os painéis de madeira removidos na manhã de hoje foram armazenados em uma sala do Palácio Legislativo.
Um guarda do Parlamento, que pediu para não ser identificado, contou à AFP que o retrato que descansava na tribuna do plenário desde a morte de Chávez, em março de 2013, foi retirado por deputados chavistas na última segunda, 4 de janeiro, antes da instalação da nova Assembleia Nacional.
Indignação de governistasO presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, reagiu com indignação, hoje, à retirada de imagens de Chávez e do líder da Independência Simón Bolívar.
“Não posso deixar de manifestar minha indignação, meu repúdio, e convocar à indignação”, declarou Maduro em pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão.
Ele convocou ainda que a população “se rebele frente a essas manifestações neofascistas, antibolivarianas, antipatriotas, antinacionalistas”.
Maduro lembrou que lideranças da oposição adotaram ação semelhante durante o golpe de Estado que afastou Chávez, brevemente, do poder em abril de 2002, “quando chegaram ao Palácio de Miraflores e colocaram o quadro histórico de Bolívar em um banheiro”.
“Não respeitam os sentimentos nobres de milhões de venezuelanos, a memória de um homem que, quando morreu, era presidente em função, comandante-em-chefe das Forças Armadas”, denunciou, ao falar de Chávez.
Fonte: Uol