“Não quero exportar imposto; deixa o brasileiro pagar”, diz chefão da GM

O Brasil tem de parar de “exportar impostos” para aproveitar a capacidade produtiva do país, vender mais veículos para outros mercados e, com isso, gerar mais empregos e atrair mais investimentos. A avaliação é de Carlos Zarlenga, presidente da General Motors América do Sul, feita durante a participação do executivo no Fórum Estadão Think: Exportar para Gerar Riquezas e Empregos — patrocinado pela GM e realizado ontem (12) na capital paulista.

Os debates foram dominados pela defesa da redução na carga de impostos no Brasil e, especialmente, na diminuição dos chamados resíduos tributários –especialmente os créditos de ICMS retidos pelos governos estaduais na exportação de veículos.

Segundo a Anfavea, a associação das montadoras, os Estados hoje devem cerca de R$ 13 bilhões às fabricantes, R$ 7 bilhões somente em São Paulo.

Esse dinheiro retido, combinado com a alta carga tributária brasileira, reduz a competitividade e tornam os automóveis feitos aqui mais caros a consumidores de outros mercados, avaliou Zarlenga.

“Você viu a carga altíssima? Deixa o consumidor brasileiro pagar por isso. Mas não coloque o consumidor chileno nem o colombiano para tentar pagar a carga tributária brasileira. Porque ele não vai pagar, porque ele pode pagar a carga tributária coreana, que é muito menor”, cravou.

“O que eu não quero é exportar o imposto, deixa o brasileiro pagar porque ele se beneficia dos serviços do Estado”, completou o executivo.

A tônica do fórum foi que, para não estar sujeito às variações cambiais e à “volatilidade” do real e da economia brasileira como um todo, a saída da indústria automotiva nacional é exportar. Uma das iniciativas, defendida pela GM, seria aumentar para 10% a alíquota de devolução dos tais resíduos de impostos às montadoras pelo Reintegra (Regime especial de reintegração de valores tributários para empresas exportadoras), da Receita Federal.

GM prepara lançamentos de olho em vendas externas
Estudo da consultoria A.T. Kearney, encomendado pela Anfavea, projeta que essa iniciativa pode ampliar em 1 milhão a quantidade atual de automóveis de passeio exportados e gerar 120 mil empregos no setor. Esse levantamento será detalhado futuramente ao governo federal, informou Zarlenga. Em 2017, o Brasil bateu o recorde de exportações de veículos, com mais de 720 mil unidades enviadas a outros mercados.

A capacidade produtiva da indústria automotiva é de cerca de 5 milhões de unidades por ano e tem uma considerável ociosidade – em 2018, o país fabricou cerca de 2,9 milhões de carros, caminhões e ônibus.

A GM, que recentemente anunciou investimentos de bilhões de reais para renovar sua linha de produtos e lançar veículos inéditos aqui, está de olho em aproveitar essa capacidade ociosa e vender para outros países. A montadora vai lançar uma nova família de veículos, global, incluindo a segunda geração do Chevrolet Onix, que chega no fim deste ano.

“Nesse momento, o resto dos mercados da América do Sul não é coberto no Brasil pelos novos investimentos. Os novos produtos estão focados no Mercosul — Argentina e Brasil, principalmente. É por isso mesmo que estamos falando na capacidade de exportar”, salientou o dirigente.

Segundo Zarlenga, ferramentas como o Reintegra poderão fazer a GM do Brasil vender essa leva de novos produtos também para Colômbia, Chile, Peru, Equador, Bolíva, Paraguai e até a Venezuela. Capacidade produtiva para isso existe.

“Tem países hoje crescendo de forma interessante. Chile, que compra muito da Ásia, este ano vai atingir 430 mil, 440 mil unidades comercializadas. Vende mais veículo por habitante que o Brasil. O Equador vai chegar a cerca de 150 mil unidades e Colômbia, a quase 300 mil. A Venezuela já vendeu quase 450 mil veículos no passado”.

De acordo com o presidente, o Onix fabricado no Brasil e exportado para Chile e Colômbia “vai muito bem” nesses países. “O consumidor gosta e venderíamos mais, não fosse a questão de custo. O produto funciona, a questão é ter maior competitividade”, concluiu.

Errata: o texto foi atualizado
A capacidade produtiva da indústria automotiva não é de R$ 5 milhões

Fonte: Alessandro Reis Do UOL, em São Paulo (SP)

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