Suspeitos de hackear Moro tiveram movimentação bancária atípica, diz juiz

Na decisão em que determinou a prisão temporária de quatro suspeitos de invadir o celular do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e outras autoridades, o juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara do Distrito Federal, afirmou que relatórios apontaram movimentações suspeitas em nome de dois deles. O magistrado diz que há “fortes indícios” de que os quatro integram organização criminosa.

De acordo com o despacho, o DJ Gustavo Henrique Elias dos Santos movimentou entre os dias 18 de abril e 29 de junho de 2018 R$ 424 mil numa conta sendo que em seu cadastro bancário consta a renda mensal de R$ 2.866 mil.

Já Suelen Priscila de Oliveira, mulher de Gustavo, movimentou a quantia de R$ 203 mil entre 7 de março e 29 de maio deste ano, sendo que em seu cadastro consta a renda mensal de R$ 2.192 mil. Os dois foram presos ontem em São Paulo.

“Diante da incompatibilidade entre as movimentações financeiras e a renda mensal de Gustavo e Suelen, faz-se necessário realizar o rastreamento dos recursos recebidos ou movimentados pelos investigados e de averiguar eventuais patrocinadores das invasões ilegais dos dispositivos informáticos (smartphones)”, escreveu o magistrado.

Além do casal, Walter Delgatti Neto e Danilo Cristiano Marques também tiveram a prisão decretada. Os quatro foram presos em três cidades diferentes: São Paulo, Araraquara (SP) e Ribeirão Preto (SP).

O juiz diz que há “fortes indícios” contra eles para ter expedido os quatro mandados de prisão temporária. Vallisney ainda ordenou mais sete mandados de busca e apreensão em endereços ligados aos suspeitos.

Há fortes indícios de que os investigados integram organização criminosa para a prática de crimes e se uniram para violar o sigilo telefônico de diversas autoridades públicas brasileiras via invasão do aplicativo Telegram
Vallisney de Souza Oliveira, juiz que ordenou prisão de suspeitos de hackear celular de Moro

Segundo o magistrado, a autoridade policial apresentou um “histórico de possíveis crimes” praticados pelos quatro para demonstrar a ligação entre eles.

A Justiça determinou a quebra de sigilo bancário do grupo entre 1º de janeiro e 17 de julho deste ano e o bloqueio de valores acima de R$ 1 mil em suas contas. O sigilo telemático de e-mail dos suspeitos também foi permitido.

O inquérito foi aberto para apurar ataques ao celular de Moro e das contas de Telegram do desembargador Abel Gomes, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, do juiz Flávio Lucas, da 18ª Vara Federal do Rio de Janeiro, e dos delegados da Polícia Federal em São Paulo Rafael Fernandes e Flávio Reis.

Outro lado
O advogado de Gustavo, Ariovaldo Moreira, afirmou na manhã de hoje que seu cliente não tem relação com o caso, mas chegou a ver mensagens que aparentavam ser de Moro, mostradas a ele por Delgatti Neto.

O advogado afirmou que o dinheiro apreendido no endereço de Gustavo é fruto de operações com bitcoins (tipo de moeda virtual) e que seu cliente tem como provar a origem lícita dos recursos. Moreira também representa Suelen. O UOL tenta localizar a defesa dos outros suspeitos.

Falha em caixa postal ajudou hackers
Segundo parecer do MPF (Ministério Público Federal), os hackers exploraram uma falha que seria comum a todas as operadoras de telefonia, “as chamadas em que o número de origem é igual ao número de destino são direcionadas diretamente para a caixa postal, sem necessidade de inserção de senha de acesso ao conteúdo das mensagens gravadas”, diz trecho do documento.

Conhecendo essa falha, os suspeitos teriam utilizado serviços de tecnologia Voip, de ligações de voz pela internet, que permite alterar o número de origem, para simular ligações do número de Moro para o próprio celular, com o objetivo de direcionar essa chamada para a caixa postal.

A intenção de acessar a caixa postal do ministro seria obter o código de acesso ao Telegram Web, programa utilizado no computador para acessar o aplicativo de mensagens Telegram.

Para a PF, essa seria a principal hipótese de como os hackers tentariam ter acesso às mensagens trocadas por Moro.

Operação Spoofing
A Polícia Federal prendeu ontem Danilo Cristiano Marques, Gustavo Henrique Elias Santos, Suelen Priscila de Oliveira e Walter Delgatti Neto na Operação Spoofing, que apura a tentativa de ataque hacker ao celular do ministro Sergio Moro e às contas de Telegram de outras quatro autoridades. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, o celular de Moro foi invadido em 4 de junho e os supostos invasores chegaram a trocar mensagens por seis horas.

As suspeitas de invasão hacker ao celular do procurador Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato em Curitiba, não constam dessa investigação, mas do inquérito aberto pela PF na capital paranaense.

Através do Twitter, Moro elogiou o trabalho do MPF, da Polícia Federal e da Justiça Federal. “Parabenizo a Polícia Federal pela investigação do grupo de hackers, assim como o MPF e a Justiça Federal. Pessoas com antecedentes criminais, envolvidas em várias espécies de crimes. Elas, a fonte de confiança daqueles que divulgaram as supostas mensagens obtidas por crime”, disse.

Ao usar a expressão “fonte de confiança”, Moro cita um termo mencionado pelo site The Intercept Brasil, que vem divulgando desde junho conversas privadas entre o ministro e os procuradores da operação Lava Jato. O site diz ter obtido os diálogos através de uma fonte de confiança. Porém, a PF, o MPF e a Justiça Federal não atribuem aos quatro presos na operação de ontem o envolvimento no fornecimento de informações ao site The Intercept Brasil.

“Parabenizo a Polícia Federal pela investigação do grupo de hackers, assim como o MPF e a Justiça Federal. Pessoas com antecedentes criminais, envolvidas em várias espécies de crimes. Elas, a fonte de confiança daqueles que divulgaram as supostas mensagens obtidas por crime.”

Stella Borges

Do UOL, em São Paulo

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