O encontro com o boxeador cubano que recusou US$ 1 milhão para lutar com Muhammad Ali.
O calor entorpecia os pensamentos e nada do telefone tocar. Meu quarto de hotel parecia uma estufa holandesa – da minha pele, brotavam brotoejas que me transformavam num ser elemental parecido com a Gosma Assassina. Estava de novo em Havana, revendo amigos, circulando pelas quebradas de Vedado, Miramar, Malec e da enigmática Havana Vieja. A fascinante ilha de Fidel Castro paixão antiga: a salsa, a rumba, o novo rap, a santera, a arquitetura, os esportes e o povo cubano sempre me seduziram. Afinal, o telefone vintage toca e eu me sacudo qual enguia elétrica: o herói nacional Teófilo Stevenson concorda em me receber. (Teófilo faleceu no dia 11 de junho de 2012 e este encontro ocorreu no início de 2003).
Considerado o maior peso pesado amador de todos os tempos, Stevenson ganhou as medalhas de ouro da Olimpíada de Munique (1972), de Montreal (1976) e Moscou (1980). Apesar de seus 93 quilos, no ringue ele bailava feito um dançarino do Tropicana (famosa casa de espetáculos de Havana). No que desferia sua direita, os adversários quase sempre beijavam o chão. Minha adoração pelo elegante cubano vem da adolescência – na década de 70, quando eu praticava boxe com o legendário Miguel de Oliveira – não perdia as lutas de Stevenson pela TV.
Fonte: Arthur Verissimo