Homem preso por vender relíquias arqueológicas tem esquizofrenia e foi solto, diz família — Foto: Arquivo pessoal
Após ser preso pela Polícia Federal em Rio Branco, nesta terça-feira (5), por vender material arqueológico na internet, o “caçador de relíquias” Joelson Moraes Cabral, de 48 anos, foi solto depois do pagamento de fiança. A informação foi confirmada ao G1 pela filha dele, a estudante Ana Beatriz Sales.
Para sustentar a família, ele já trabalhou como catador de latinhas e, após fazer um curso, se tornou segurança. No entanto, após receber o diagnóstico de esquizofrenia em 2008, ele parou de trabalhar para fazer o tratamento e atualmente é aposentado.
Mas foi em 2019 que ele começou a catar lixo de dentro do Rio Acre, em Rio Branco, e em uma dessas acabou encontrando garrafas antigas e ficou curioso, lembra a filha. Sem ter conhecimento do que se tratava, ele pedia que Ana pesquisasse sobre os objetos e começou a se interessar pelo tema.
Após ser preso pela Polícia Federal em Rio Branco, nesta terça-feira (5), por vender material arqueológico na internet, o “caçador de relíquias” Joelson Moraes Cabral, de 48 anos, foi solto depois do pagamento de fiança. A informação foi confirmada ao G1 pela filha dele, a estudante Ana Beatriz Sales.
Para sustentar a família, ele já trabalhou como catador de latinhas e, após fazer um curso, se tornou segurança. No entanto, após receber o diagnóstico de esquizofrenia em 2008, ele parou de trabalhar para fazer o tratamento e atualmente é aposentado.
Mas foi em 2019 que ele começou a catar lixo de dentro do Rio Acre, em Rio Branco, e em uma dessas acabou encontrando garrafas antigas e ficou curioso, lembra a filha. Sem ter conhecimento do que se tratava, ele pedia que Ana pesquisasse sobre os objetos e começou a se interessar pelo tema.
Na casa do suspeito, foram achadas diversas garrafas históricas — Foto: Asscom/PF-AC
“Começou a achar coisas que chamavam atenção no rio e eu sempre falava pra ele: ‘pai, cuidado, porque o senhor não tem nenhuma proteção’. Mas, meu pai é assim, quando ele gosta de uma coisa, ele vai até o fim. Primeiro ele tirou vários pneus e lixo mesmo que tinha, e começou a achar essas coisas e pesquisar a história. Todos os dias ele pedia que eu pesquisasse alguma coisa, se eu conseguia ver o nome das garrafas. Daí, passou a juntar diversas garrafas, muitas mesmo, e elas estavam guardadas na casa do meu avô que é onde ele mora”, diz a filha.
Ana garante que o pai não tinha ideia de que o que estava fazendo era errado ou mesmo ilegal. Ela conta que ao ver que algumas peças valiam dinheiro, Cabral resolveu anunciar alguns dos itens achados no rio em uma plataforma na internet e conseguiu vender objetos. Mas, ela afirma que não sabe precisar quantas foram vendidas e nem quanto rendeu ao pai em dinheiro.
“No rio não tem indicação de nada, tem muito lixo, isso é fato, e é uma coisa incomum [entrar nas águas para retirar coisas]. Não tinha nenhum informativo de que lá tinha coisas históricas, que não podia pegar e nem tirar. Ele viu que algumas coisas tinham valor e, além de ser uma coisa que ele gostava muito de ficar procurando, vendo a história, ele começou a vender. Mas, ele não tinha e, muito menos eu, conhecimento de que seria algo que pudesse prejudicar ele.”
Sobre a soltura do pai, a jovem confirmou que a fiança dele foi paga, mas que não sabe quem fez o pagamento e nem qual o valor. “Meu primo tinha mandado o filho dele lá, que é advogado, para pagar, mas quando chegou já tinha sido pago. E a gente não sabe [quem pagou], inclusive vamos procurar saber.”
Em sua página do Facebook, Cabral se autointitula ‘caçador de relíquias’ — Foto: Reprodução/Facebook
Até seis meses para catalogar peças
Após a apreensão do material, o superintende do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Acre, Jorge Nardini, disse que uma equipe de técnicos trabalha na limpeza, identificação e catalogação dos objetos.
“Estamos fazendo um relatório da importância e valor das peças, para que a PF possa nos dar a guarda. Vamos passar de quatro a seis meses em trabalho técnico de identificação, catalogação, limpeza desse material. Depois, vamos procurar uma instituição de guarda para que, mais tarde, os pesquisadores da área de história e geografia possam ter acesso a essas provas documentais da nossa história. Então, daí sim vai estar em mãos seguras e o estado brasileiro vai estar fazendo sua parte. E o Iphan nesse caso cumpriu sua missão”, afirmou.
O superintendente disse que foi após receber denúncia que teve conhecimento do caso e acionou a Polícia Federal para que o material fosse apreendido. Para Nardini, o suspeito não era uma pessoa “leiga” no assunto e tinha conhecimento da importância dos objetos encontrados.
“A gente quer crer que a pessoa não é leiga, estava muito bem acondicionado [o material], em grande quantidade, tinha uma organização de venda, que ele ocupou a plataforma OLX. Então, se ele ocupou esta plataforma veio a público e tinha contato com prováveis compradores.”
Artigos históricos foram achados na casa do homem — Foto: Asscom/PF-AC
Valor arqueológico
Entre as centenas de objetos estão garrafas, cerâmicas e artefatos fósseis. Garrafas de Stoneware (Grés) do século XIX, além de garrafas de vidro provenientes da Holanda, Irlanda, Inglaterra e Portugal, de diversos tamanhos e tipologia, que chegaram na região na época da Revolução Acreana e, sobretudo, durante os Ciclos da Borracha, possuindo, portanto, mais de 100 anos e, consequentemente, um grande valor histórico.
“Nesse caso se encontrou objetos que datam do século XIX e até a metade do século XX. Esse objeto é uma prova material da ocupação da Amazônia na época do período da borracha. Então, a importância é fundamental, existe uma lei de proteção que não se pode qualquer pessoa ter posse desse material, nem destruir e nem vender e, no caso, o cidadão estava vendendo o material”, disse o superintendente.
Uma das garrafas de cerâmica veio da Alemanha em 1920. O objeto, segundo o Iphan, pode ser usado por pesquisadores para subsidiar e contar a história do estado do Acre.
Questionado sobre o porquê de o próprio instituto não ter encontrado essas peças no Rio Acre, o superintendente afirmou que são vários os trabalhos feitos por pesquisadores na região e que esse tipo de atividade de “caça relíquias” só deve ser feito por pessoas especializadas.
“Para o Iphan ou fundações culturais do estado, ou para os pesquisadores fazerem essas pesquisas, eles têm um protocolo de segurança para quando for caçar relíquia e não destruir o sítio arqueológico. Isso porque, quando você tira uma peça do lugar, você pode destruir outra peça, então tem que ser pessoa habilitada. Nós, como instituição, temos alguns pesquisadores catalogados e temos pesquisas como essa acontecendo ao longo do ano, mas não é divulgado, porque não tem um crime e, nesse caso, é crime”, concluiu.
Operação Elona foi deflagrada nesta terça-feira (5) em Rio Branco — Foto: Asscom/PF-AC
Operação Elona
O nome da operação faz referência a um mosteiro na Grécia, que em meados do século XIX, ladrões retiraram materiais arqueológicos e relíquias sagradas do mosteiro.
O delegado da PF Maurício Rocha falou à CBN Rio Branco que ainda não é possível precisar a quantidade do material histórico apreendido, mas garantiu que um vasto material foi encontrado na casa do suspeito.
“Até agora não tem condições de individualizar, mas foram sete caixas contendo aproximadamente 50 garrafas em cada caixa, então é um vasto material a ser catalogado pelo Iphan. Agora, o Iphan vai individualizar e catalogar e aí gente vai ter uma noção precisa daquilo que esse cidadão tinha em posse para ser comercializado”, disse.
Rocha disse ainda que esse tipo de crime tem sido comum no Acre por ser uma região que contém muito material histórico de fácil acesso.
“A cultura brasileira não tem essa preocupação em preservar esses material arqueológicos, paleontológicos, materiais históricos em si, então, por isso que não é muito comum [o crime], mas nessa região do Acre temos muitos sítios arqueológicos, uma vasta área a ser preservada, que possui esse material, então a incidência aqui é maior. O Acre tem precedentes de combate a esse tipo de delito”, destacou.
O homem deve responder por crimes ambientais por alterar o local protegido por lei em razão de seu valor arqueológico e por estelionato porque vendia os materiais como se fossem dele. A Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão, onde foi localizado grande parte do material arqueológico, que foi encaminhado ao Iphan.
A PF disse que as investigações continuarão em andamento para identificar outros envolvidos no esquema de comercialização ilegal de relíquias arqueológicas.