A família de uma adolescente cadeirante, de 15 anos, denunciou à Policia Civil que a menina foi vítima de importunação sexual praticada pelo ex-assessor do Governo de Goiás Fábio Pereira, conhecido como Chefe Fabinho. Ele conheceu a estudante durante um evento num colégio de Goiânia, pegou o número dela, trocou mensagens de conteúdo sexual e até enviou vídeos íntimos mostrando o órgão genital.
Fábio Pereira disse em nota que “foi um diálogo natural por mensagem entre duas pessoas” e não houve encontro isolado entre eles. Ele ressaltou que respeita a adolescente e a família dela (leia a nota na íntegra ao final do texto).
Os dois se conheceram em 20 de abril deste ano e a troca de mensagens acontecia sempre à noite, segundo os parentes. A família registrou ocorrência em 2 de maio, quando descobriu o caso. O então assessor foi exonerado da Secretaria de Estado de Administração na última segunda-feira (16), após o início da investigação.
A secretaria ressaltou em nota que “não é admitida qualquer conduta que fira os preceitos éticos, legais e morais nos quadros do Governo de Goiás” e, por isso, ao tomar conhecimento da denúncia, a Governadoria imediatamente exonerou o servidor.
A delegada Josy Alves, que trabalha na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) de Goiânia, abriu um inquérito para investigar os possíveis crimes de importunação sexual e violência psicológica.
Segundo a investigadora, Fábio Pereira compareceu espontaneamente à delegacia e disse que o episódio foi um relacionamento virtual e que a adolescente correspondeu às conversas.
“A gente fica sensibilizado com os pais, ficamos consternados com a vítima e solidarizados. Contudo, não é todo fato que nos causa estranheza que é tipificado como crime. É isso que a polícia vai analisar na conducão da investigação”, explicou a delegada.
Denúncia
A mãe da menina, que não terá a identidade revelada, disse que a filha mudou o comportamento dentro de casa depois de começar a conversar com o homem. Ela ficou agressiva, tinha pesadelos e não deixava a mãe pegar o celular.
“O que mais me dói é um ser humano desse não ter respeitado a condição dela. Ele abusou da minha filha pela idade, e pela fragilidade física dela”, desabafou a mãe.
A adolescente contou que Fábio Pereira sempre perguntou se ela era virgem ou se eu tinha vontade de não ser mais. Durante as trocas de mensagens, o homem chegou a falar que aquilo não era pedofilia e que não teria problemas porque já tinha “ficado” com meninas até mais novas do que ela.
“Ele falou que ele iria no colégio, que ele iria me ensinar a fazer sexo e que não via problema algum na minha deficiência, que eu não era diferente de nenhuma das outras meninas”, contou a adolescente.
Conversa pelo celular
O ex-assessor e a adolescente se conheceram em 20 de abril deste ano. Os dois se encontraram em um colégio de Goiânia durante uma cerimônia. A mãe contou à polícia que o homem ficou o tempo todo ao lado da filha no evento e estranhou o comportamento dele.
A adolescente pediu para ir ao banheiro durante a cerimônia e o suspeito se ofereceu para levá-la. A mãe disse que não precisava de ajuda e levou a filha embora.
A troca de mensagens teria ocorrido durante 20 dias, sempre por volta de meia-noite, e com a proposta de manter relação relação sexual com a adolescente. Fábio Pereira teria enviado pelo menos cinco vídeos onde ele aparece nu e acaricia o próprio corpo.
Em um trecho do diálogo, o suspeito diz que os dois tem uma “amizade colorida”. A menina, porém, pede para explicar o que significa isso.
Após dias de conversa, as mensagens passam do tom da suposta amizade colorida, que ia de conversas sobre jogos de futebol a atividades do dia-a-dia, para o envio de vídeos íntimos e tentativas de marcar encontros.
“Vontade de gozar para você, ao vivo. Na sua frente. E você ajuda da forma que quiser e puder”, escreveu Fábio Pereira em uma mensagem.
Ele insiste na conversa.
“Como você pode ajudar? Fala. Porque você falando, me atiça aqui. Gostaria demais de saber”, continuou.
O suspeito fala em marcar um encontro, que poderia ser na casa da adolescente quando estivesse sozinha, o que não aconteceu.
A adolescente supostamente pede para ele enviar vídeos de corpo inteiro. O suspeito aceita, diz que vai gravar imagens mostrando os órgãos genitais e envia. Mas pede que ela apague as mensagens logo em seguida para “não dar problema”.
Crimes
Para a presidente da Comissão de Direito Criminal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-GO) em Goiás, Batira Miranda, a conduta do ex-assessor pode ser enquadrada em mais de um artigo do Código Penal e do Estatuto da Criança e do Adolescente, podendo ser investigado como divulgação de pornografia e até estupro de vulnerável.
“Houve constrangimento e um constrangiomento ilegal. Então existe a responsabilidade jurídica , você tem um ato de imoralidade que é inadimissivel, um ato de imoralidade que choca o senso comum das pessoas. É ilegal o que foi feito. A ilegalidade, do ponto de vista penal é verifiar qual crime foi praticado”, comentou Miranda.
Nota de Fábio Pereira
Entendo ser um diálogo natural por mensagem entre duas pessoas, não havendo nenhum encontro isolado com a denunciante. No único encontro, a genitora estava presente. Quero ressaltar aqui o respeito a ela e toda família.
Nota do Governo de Goiás
Acerca dos questionamentos enviados pela TV Anhanguera/Globo, o Governo de Goiás, por meio da Secretaria-Geral da Governadoria, esclarece:
– Não é admitida qualquer conduta que fira os preceitos éticos, legais e morais nos quadros do Governo de Goiás. Portanto, ao tomar ciência da denúncia, a Secretaria-Geral da Governadoria imediatamente exonerou o servidor, conforme publicação no Diário Oficial do Estado da última segunda-feira (15/5), e tem acompanhado o desenrolar das investigações.
– O Governo de Goiás reitera que qualquer suspeita de crime deve ser amplamente investigada pelas autoridades de Segurança Pública.
Fonte:G1