Cientista: Brasil pode ter casos da ameba comedora de cérebros

Doutora em Microbiologia Agrícola e do Ambiente pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a parasitologista Denise Leal dos Santos adverte que, embora as mortes causadas pela ameba comedora de cérebro costumem ser registradas em outros países, há a possibilidade de casos não diagnosticados estarem acontecendo no Brasil.

A parasitologista considera o alerta importante para que os brasileiros sejam conscientizados sobre os perigos da ameba – conhecida no meio científico como Naegleria fowleri – e também suas formas de contaminação, que em mais de 90% dos casos costumam ser fatais.

– Ela [a ameba Naegleria fowleri] causa uma meningite que pode ser confundida com outra bacteriana ou viral, porque os sintomas são parecidos. Então podemos ter casos subdiagnosticados, ou seja, que tenham sido causados pela Naegleria fowleri, mas que não foram identificados. Lá nos Estados Unidos, como é mais comum, se a pessoa teve algum sintoma eles já pesquisam para ver se é a ameba – explicou Denise, segundo informações do jornal O Globo.

A cientista, que já recebeu um prêmio da Sociedade Brasileira de Parasitologia (SBP) por uma tese sobre a Naegleria fowleri, relembra que já houve dois casos diagnosticados em bovinos no Rio Grande do Sul, em 2017 e 2019. Isso significa que o microrganismo está presente no Brasil.

– Poderia ter sido um humano mergulhando, por exemplo, no lago onde esse bovino bebeu água, e ter se contaminado. Provavelmente, em breve, vamos ver algum caso confirmado no Brasil. Se formos pesquisar, encontramos. Mas, não são muitas pessoas que trabalham com esse microrganismo no país – ponderou.

CARACTERÍSTICAS DA AMEBA
Naegleria fowleri costuma viver no solo, e sua incidência ocorre em água doce, como rios, lagos, fontes termais, ou mesmo torneiras. Ao ter contato com o rosto humano, ela invade o corpo do hospedeiro por meio do nariz e viaja até o cérebro, onde destrói o tecido do órgão em até sete dias após o início dos sintomas, causando uma meningoencefalite amebiana primária (MAP).

A taxa de mortalidade é altíssima, chegando a 97,4%, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC). Não há tratamento ou vacina para a doença, sendo utilizadas somente medicações antiparasitárias que não têm se mostrado muito eficazes.

– Ela é agressiva por causa da sua velocidade. Ela emite flagelos que facilitam o deslocamento, então ao entrar nas fossas nasais de forma muito rápida, ela ultrapassa a barreira hematoencefálica e se instala no cérebro causando a meningite. A pessoa começa a ter sintomas e dentro de sete dias vai a óbito – acrescenta Denise.

Apesar de letal, os casos são raros e estão espalhados por diversos países do mundo. A principal nação que monitora o patógeno são os Estados Unidos que, desde 2018 tem registrado, em média, cerca de três mortes por ano.

Para Denise, os casos podem aumentar devido ao aquecimento do planeta, já que estudos científicos apontam que o parasita tende a se proliferar mais em temperaturas mais altas, conseguindo tolerar águas de até 50 graus.

A parasitologista alerta que a ameba acomete não somente pessoas imunocomprometidas, mas também as saudáveis. Os sintomas costumam aparecer de 1 a 12 dias após a infecção, se manifestando na forma de febre, dor de cabeça, náuseas, vômitos, fotofobia, convulsões e até mesmo o coma.

– São pessoas que simplesmente foram tomar um banho no lago e acabam morrendo – lamenta Denise.

Fonte:Pleno.News

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