Janeiro foi um mês de valorizações importantes no mercado do trigo brasileiro e o movimento segue em fevereiro. No Rio Grande do Sul, o ano já iniciou com preços firmes que foram alavancando ainda mais no decorrer do mês. Em Cruz Alta (RS), o preço do trigo no acumulado de 30 dias subiu 14%, iniciando fevereiro no patamar de R$ 830,00 a tonelada (trigo tipo 1). Já em Maringá (PR), a tonelada de trigo atingiu os R$ 980,00, no indicador da Bolsa Brasileira de Mercadorias.
De acordo com a JF Corretora de Cereais, corretora associada à Bolsa Brasileira de Mercadorias, inicialmente, o mercado da commodity ganhou força com articulações do governo argentino para buscar mecanismos para aumentar a oferta interna do produto na tentativa de forçar uma baixa no mercado local que contabilizava altas significativas.
Em paralelo a isso, houve também o fortalecimento do dólar frente ao real, acima dos R$ 4,20. “O câmbio valorizado estimulou exportações a preços mais competitivos que os praticados pela indústria local”, argumentou Jairo Faccio, diretor da JF. Segundo a corretora, a indústria local se encontra suprida de matéria-prima no médio prazo e sem espaço físico para armazenagem de novas compras no curto prazo, o que reflete nos preços.
Por outro lado, o produtor percebendo uma melhora nos preços passou a vender apenas o necessário para suprir seus compromissos financeiros na expectativa de que, após os meses de março/abril, o mercado venha proporcionar preços ainda mais elevados, influenciado pelo sentimento de que não há quantidade de produto disponível para comercialização em relação à demanda até a entrada da próxima safra, segundo a corretora.
Faccio explica que, para que as cotações se mantenham em patamares sustentados, e até tenham uma escalada ainda maior, isso dependerá de quatro fatores básicos. Com o governo argentino priorizando o mercado interno em relação às exportações para evitar aumentos de preços nos derivados de trigo, precisa-se que o dólar siga firme e é preciso que não haja alteração da Tarifa Externa Comum (TEC) para importação do produto fora do Mercosul (hoje já existe uma cota de 750 mil toneladas de trigo autorizadas para importação com tarifa zero). Outros fatores incluem a manutenção da política que já vinha sendo adotada independente da conjuntura do mercado atual e, ainda, o real tamanho da safra do Rio Grande do Sul.
Em relação à safra gaúcha, a segunda maior do país, números oficiais apontam uma produção de 2,2 milhões de toneladas e, alguns agentes de mercado, estimam um volume ainda maior, entre 2,5 e até 2,7 milhões de toneladas. “A realidade mais uma vez será conhecida próximo da colheita da próxima safra, cujo plantio ainda está distante. O que podemos dizer é que, se os números oficiais estão corretos, não existe mais trigo para venda no estado gaúcho e isto não é a realidade, portanto, a metodologia de levantamento de safra precisa ser revista principalmente por parte dos órgãos oficiais”, destacou.
Faccio reforça que, por mais que se estime o volume de safra acima dos números oficiais, o que parece ser fato, é que a oferta de produto disponível para comercialização tende a ser menor que a demanda necessária das indústrias até a entrada da próxima safra, além de que as indústrias de moageiras possuem um forte concorrente: o milho. “Nesse cenário de paridade de preço, o produtor tende priorizar a venda para as indústrias de ração pelo menor grau de exigência em termos de classificação física”, finalizou.