Quem passa por Santa Rita do Araguaia, na divisa de Goiás com o estado de Mato Grosso, já deve ter visto às margens da rodovia, dezenas de barracas que oferecem vários produtos derivados do leite. Porém, um desses produtos chama a atenção de quem para em uma das barracas para comprar algum item. É o queijo cabacinha.
A iguaria que chama a atenção pelo formato, daí a origem do nome, é tradicionalmente produzida na região da Nascente do Araguaia. Ao todo são dez municípios: Mineiros, Doverlândia, Perolândia, Portelândia, Santa Rita do Araguaia, Alto Araguaia, Alto Garças, Alto Taquari, Araguainha e Robeirãozinho. A produção do queijinho especial começou há cerca de 80 anos. Desde então se tornou uma tradição de família, passada de geração para geração.
Uma das famílias que fabrica o queijo é a do Sr. Hélio Borges. Ele conta que a produção sempre teve o intuito de complementar a renda dos trabalhadores rurais, mas que foi na década de 70 a comercialização ganhou força. “No início o queijo cabacinha complementava a renda de quem morava na roça, pois os salários eram pagos com a produção e o dinheiro de pagar as contas vinha da venda dos queijos; os anos se passaram e as pessoas mudaram para as cidades, porém, seus filhos continuavam trabalhando nas propriedades próximas às cidades e com o leite que recebiam, como complemento de renda, produziam a iguaria que era vendida as margens da rodovia que, na época, começava a ter um bom movimento”, relatou ele.
Com o passar dos anos o produto foi ganhando mercado e atualmente é comercializado em Cuiabá, Goiânia, Brasília e até fora do país. A iguaria hoje é a principal fonte de renda de dezenas de famílias.
O problema é que a expansão do mercado está presa a informalidade, o que faz com que o queijo levado para fora da região acabe sendo comercializado de maneira clandestina. Para continuarem na atividade e expandir o mercado, os produtores tiveram que procurar apoio técnico, foi quando começou a parceria com a equipe do SEBRAE regional Jataí, no estado de Goiás.
O primeiro encontro aconteceu em 2011, durante a terceira festa da semente de Mineiros. A partir daí os produtores foram ganhando outros aliados que, assim como o SEBRAE, não poupam esforços em busca da Indicação Geográfica. As indicações geográficas são ferramentas que visam a valorização de produtos tradicionais vinculados a determinados territórios. No caso da região, a indicação buscada é de procedência, que é dada a locais que tenham se tornado conhecidos como centro de produção ou fabricação de determinado produto.
Em 2013 foi realizada, em Mineiros, no sudoeste goiano, uma reunião para discutir o potencial da indicação geográfica na região. Em 2014 foi apresentado o diagnóstico da avaliação realizada pelo SEBRAE. No ano de 2015 o encontro foi com técnicos da Emater. Em 2016 as ações que buscam a indicação geográfica, foram inclusas no plano de desenvolvimento do Território Rural de Identidade Parque das Emas. Já em 2017 foram realizadas duas reuniões com apoiadores do projeto (SEBRAE, SENAR, MAPA, EMATER, Unifimes, UFG e Território Parque das Emas) e produtores da agricultura familiar.
Durante esse período, os produtores do queijo realizaram melhorias nos locais de produção, sem comprometer a essência artesanal do produto, a fim de obter a certificação do SIM (serviço de inspeção municipal), o que atesta qualidade da iguaria. Eles também aproveitaram para buscar conhecimento. Ainda no ano de 2017 os produtores fizeram os cursos Negócio Certo Rural e Redes Associativas promovidos pelo SEBRAE.
João Luiz, analista do SEBRAE, é quem acompanha e dá suporte para que a região consiga conquistar a Indicação Geográfica. Ele destaca que ainda há um longo caminho a ser percorrido, mas todos os envolvidos se mantem focados em seus objetivos. Eles sabem que, com a Indicação, terão reconhecida, a região onde surgiu o queijo cabacinha, que já ganhou o Brasil e no mundo, movimentando assim a economia local e garantindo renda das famílias produtoras. “Para nós do SEBRAE é imprescindível que, através da indicação geográfica, consigamos proteger, tanto os produtores rurais que detém essa técnica de produção quanto o produto. Pois através dessa conquista eles vão conseguir agregar valor e ter melhorias nas vidas de todos os envolvidos. Para isso trabalhamos com eles de forma a conscientiza-los da importância de estar se capacitando e se qualificando. Ao fim todos vão perceber que o percurso valeu a pena”, concluiu o analista.
Por Agnel