Em 1970, apenas 300 pessoas compareceram à Comic-Con, uma convenção anual para fãs de histórias em quadrinhos e de ficção científica.
Porém, neste final de semana, na cidade californiana de San Diego (EUA), mais de 150 mil pessoas são esperadas para um evento que está no centro de uma indústria hoje avaliada em bilhões de dólares e que reúne patrocinadores de peso e estúdios de cinema.
De acordo com o mais recente balanço empresa organizadora da Comic-con, o evento teve receita de mais de US$ 17 milhões em 2015, e hoje ocorre também em várias outras cidades do mundo – no Brasil, por exemplo, será realizado em São Paulo, em dezembro.
“O crescimento foi assustador”, explica John Jackson Miller, dono da empresa Comichron, que analisa vendas de histórias em quadrinhos.
A demanda pela Comic-Con é tão grande que muita gente viaja para San Diego mesmo sem ter ingressos. A prefeitura de San Diego está sob pressão para ampliar o centro de convenções que recebe o festival.
Segundo a empresa de venda de ingressos Eventbrite, convenções como a Comic-Con movimentaram US$ 600 milhões nos EUA em 2013. E que seu impacto econômico total pode chegar a US$ 5 bilhões.
Apenas em San Diego, as autoridades estimam que o evento anual de julho injeta US$ 140 milhões na economia local.
Para analistas, o crescimento está ligado em parte ao boom de filmes de super-heróis e ficção científica produzidos por Hollywood nos últimos 15 anos, e que aumentaram a base de fãs, tornando os gêneros mais populares e acessíveis para o público geral.
Para Stephanie Tully, professora de marketing da Universidade de South California, o fenômeno também reflete uma sociedade mais rica e com mais dinheiro para gastar do que em apenas necessidades básicas.
Mas ela também ressalta um fator social menos óbvio: um fenômeno conhecido por acadêmicos como o Medo de Ficar de Fora (FOMO, em inglês), exacerbado pelas mídias sociais.
Tully é coautora de um estudo mostrando que consumidores tendem a se endividar muito mais com experiências do que bens materiais.
Algo que empresas já perceberam.
A Disney está investindo pesado em seus parques temáticos e fundos como o TPG Capital, um gigante do mercado financeiro, despejaram dinheiro em espetáculos como o Cirque du Soleil.
“As empresas têm um interesse imenso em entretenimento ao vivo no momento”, afirma John Maatta, um ex-executivo de TV que hoje comanda a Wizard World, organizadora de convenções para fãs de quadrinhos em mais de 12 cidades americanas no ano passado.
Para Maatta, o público valoriza interações no mundo real à medida que nossas vidas ficam mais e mais ligadas ao mundo online.
“Não há substituto para a conexão humana”, diz ele.
Batalha de convenções
Mas o crescimento da Comic-Con incomoda alguns nomes de peso da indústria.
No início do mês, a rede de lojas Mile High Comics, um dos maiores vendedores de quadrinhos dos EUA, anunciou que não participaria do evento pela primeira vez em mais de 40 anos. Outras empresas criaram seus próprios eventos.
David Glanzer, assessor de imprensa da Comic-Con, não respondeu às perguntas da BBC sobre o evento.
Em 2014, a empresa entrou na justiça contra os organizadores de uma convenção em Salt Lake City event, alegando violação de marca registrada. Mas em geral parece não se opor à multiplicação de eventos.
A New York Comic Con, por exemplo, teve início em e deve atrair 200 mil pessoas este ano. A empresa organizadora, a ReedPOP, com sede em Londres, tem anda 30 eventos em cidades espalhadas pelo mundo, incluindo na Índia e na China.
Mike Armstrong, o diretor do evento nova-iorquino, diz que ainda há espaço para crescer.
“Para mim, águas subindo vão fazer todos os barcos flutuarem. Eventos menores são oportunidades para que as pessoas se interessem e um dia queiram ir à New York Comic Con.”
Nuvens à frente?
Mas há quem tema períodos turbulentos à frente. De acordo com a Comichron, as vendas de quadrinhos nos EUA diminuíram de ritmo entre 2015 e 2016, depois de dispararem nos quatro anos anteriores. A Wizard World reduziu o número de eventos realizados nos últimos dois anos.
Robert Salkowitz, que analisa a indústria desde os anos 90, diz que ainda é cedo para pânico.
“O mercado ainda está saudável”, diz ele.
Maatta aponta para o fato de as vendas ainda estarem crescendo e para o sucesso comercial de filmes como Mulher Maravilha.
“Eu não acho que isso seja uma moda, mas sim um estilo de vida”.
Fonte:Uol Notícias