A safra de grãos de 2019 no Rio Grande do Sul foi 4,7% maior do que o ano passado e a área plantada cresceu 1,9%, representando 167 mil hectares a mais. A soja e o milho tiveram destaque com aumento de área de 2,4% e 8,2%, respectivamente. Já o arroz não teve o mesmo desempenho. Com endividamento do setor, os produtores se desestimularam e houve retração de 8,1% na área plantada. Na pecuária de corte a abertura comercial do Brasil, especialmente para a China, resultou em preços aquecidos. Esses são alguns dados que traçam o perfil do agronegócio gaúcho, divulgados pela Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul).
Numa avaliação geral do ano o presidente da entidade, Gedeão Pereira, avalia que foi positivo. As boas condições climáticas colaboraram para a safra de grãos que foi de 34,660 milhões de toneladas. A exceção foi o arroz que teve redução de área plantada e de produção, também em função do clima que não colaborou com enchentes na região da Campanha. O presidente também destaca a nova área agrícola gaúcha que está se constituindo na Fronteira Sul. Nas terras antes dominadas pro arroz e pecuária, a soja está conquistando produtores. “Temos uma valorização das commodities no Rio Grande do Sul e, com isso, esperamos que a área com soja chegue a 1,5 milhões de hectares na próxima safra”, confirma.
O fator arroz
O Rio Grande do Sul é o grande produtor de arroz do Brasil, cerca de 70% do total. Neste ano as chuvas não colaboraram na safra e houve redução de 15% na produção. Para a safra 2020 o fator clima também pode atrapalhar. O excesso de chuva causou atraso no plantio. De acordo com o Instituto Rio-Grandense do Arroz (Irga) somente 76% da intenção da semeadura foi concluída e a expectativa é de queda de produção ainda maior na safra passada (7,172 milhões de toneladas produzidas em 2019).
O alto custo de produção também conta. Só fertilizantes, agroquímicos, sementes e royalties representam 25% do custo operacional total. Irrigação, óleo diesel, mão-de-obra, frete, tributos e financiamentos são 34%. “O que acontece é que 2017 foi uma safra grande de arroz, acima do consumo nacional, o que gerou estoques. Já 2018 foi um pouco menor e todo estoque foi exportado causando redução de reservas. Em 2019 plantando menos e estoques baixos, com produção menor do que consumo. Vamos pra 2020 produzindo menos e sem estoque. Há um risco de baixa no arroz e desestímulo ao produtor ainda maior mas podemos ter uma recuperação se o clima colaborar”, destaca o economista da Farsul, Antônio da Luz.
Crédito rural e seguro rural em mudança
“Teremos grandes transformações para o crédito rural em 2020. Como temos uma indústria a céu aberto o seguro vem garantir nossas metas. As apólices também devem registrar aporte de crédito privado não somente bancos. O produtor poderá inclusive buscar financiamento no exterior”, acredita o presidente da Farsul.
O volume de recursos anunciados pelo Governo Federal para o Plano Safra 19/20 é de R$ 225 bilhões, um aumento de 16%. Em contrapartida o número de contratos segue em queda a cada ano. Em 2019 o número é 8% menor, demonstrando as dificuldades dos produtores no acesso ao crédito. No custeio o volume de crédito aumentou em 1%, representando 61% do total tomado de crédito rural. O investimento manteve o mesmo percentual de 19% do crédito e a comercialização diminuiu em 1% a participação na carteira. “Acreditamos que o crédito rural não nos leva para onde precisamos e já fez seu papel porque ano a ano registramos queda no acesso. Quanto ao seguro rural pedimos ao governo que dê subsídio até que ele se massifique junto ao produtor, que ele saiba o que é uma apólice de seguro e as responsabilidades de ambas as partes (quem financia e quem paga). O seguro do agro é variável não é como um de automóvel. Temos clima, tamanho de lavoura, talhões e culturas diferentes. Temos que levar isso em conta”, comenta Gedeão.
De olho na safra, na carne e nas reformas
Em 2020 o que se espera é uma safra de grãos recorde, acima de 35,5 milhões de toneladas, o que representa cerca de 100 mil toneladas a mais que na safra passada. Junto com isso a valorização da proteína está deixando o pecuarista otimista. Nos últimos dez anos as importações de carne bovina da China aumentaram mais de 100 vezes. Neste ano com o surto de Peste Suína Africana dizimando os rebanhos de suínos, a potência passou a demandar mais proteína do Brasil e, como consequência, aumentou o preço para o mercado interno. Para o próximo ano as importações chinesas devem expandir mais 21%.
A notícia vem em meio as negociações do Rio Grande do Sul para se tornar estado livre da Febre Aftosa sem vacinação, a exemplo de Santa Catarina e Paraná, elevando o Estado a um novo status sanitário. “O Brasil esta em excelente posição para suprir a demanda de grãos e carnes. Temos que investir em tecnologia e cuidar da sanidade animal de nossos rebanhos” reforça Luz. Para o consumidor interno os preços devem se manter mais altos.
Já no campo político o economista defende que medidas como as reformas da Previdência, Trabalhista., Econômica e Tributária, MP da Liberdade Econômica, Pacto Federativo, privatizações e novos acordos bi e multilaterais são fundamentais para manter o agro em alta. Com a implementação dessas mudanças a Farsul projeta para 2019 um crescimento de 1,69% e para 2020 projeta 2,96% no PIB agropecuário brasileiro. “Há alguns anos atrás éramos importadores e hoje somos exportadores, líderes em diversos produtos. Em 2020 vislumbramos um ano muito bom”, destaca.
Confira mais detalhes sobre as perspectivas para o ano que vem, os desafios de logística que barram a produção, o mercado da carne, arroz e soja na entrevista em vídeo com o presidente da Farsul, Gedeão Pereira.
Fonte: Agrolink