EXCLUSIVO: Mensagens mostram como agentes do Bope ajudavam criminosos do Rio

O Batalhão de Operações Especiais (Bope), tropa de elite do governo fluminense, veio aos holofotes na semana passada não por razões que honram a farda. Cinco de seus integrantes, um sargento e quatro cabos, foram presos depois que a subsecretaria de Inteligência (SSinte) e o Ministério Público reuniram informações para cravar que, no lugar de trabalhar pelos cidadãos de bem, esta banda podre do batalhão agia em prol da bandidagem havia pelo menos um ano. Antes de sair do quartel para fazer a patrulha, os agentes avisavam os marginais. Isso mesmo: era tudo fachada. VEJA teve acesso a trocas de mensagens entre o bando corrompido do Bope e integrantes do alto escalão do crime, material que desencadeou a operação “Black Evil” (mal negro, alusão à cor do uniforme da tropa) . O conteúdo escancara detalhes desta extensa rede criminosa.

Às 7h24 minutos da manhã de 17 de setembro uma mensagem de texto pipocou em um grupo do BlackBerry Messenger (BBM), sistema criptografado de mensagens muito usado por traficantes do Comando Vermelho (CV): “O Preto 4 avisou que vão sair daqui a pouco mas ainda não sabe pra onde vão. Geral do CV fica ligado pra não sofrer surpresa desagradável”. Várias áreas dominadas pela maior facção criminosa do Rio de Janeiro recebiam, naquele instante, um alerta de que homens do Bope estavam se preparando para sair às ruas supostamente para fazer seu serviço. Às 8h17, já ciente de que a operação não seria em domínios do CV, o cabo Maicon Ricardo informou de forma sucinta: “Ninguém de vocês, não”.

O aviso daquela manhã de setembro era um alerta rotineiro. “Eles davam bom dia e boa noite para os traficantes, só para dar uma satisfação”, conta a promotora Angélica Glioche. Essa era uma das obrigações do acordo: sempre dar o alerta de que haveria uma ação policial, ainda que ainda não soubessem o lugar preciso da operação. Pela venda das informações, os agentes faturavam até 10 000 reais semanais por favela. Estima-se que pelo menos onze delas tenham sido blindadas pelo esquema.

As mensagens chegavam a informar o Comando Vermelho até mesmo quando as ações policiais atingiriam uma facção rival. Em 8 de agosto, às 14 horas em ponto, veio o aviso: “Pessoal na rua. Saindo agora (para a) Pedreira”. Como o Morro da Pedreira, controlado pela quadrilha Amigos dos Amigos (ADA), é vizinho a um conjunto de favelas comandadas pelo CV, integrantes do bando começaram a enviar mensagens ao PMs para saber se nada mesmo aconteceria no naco deles. “Mas chapa (Complexo do Chapadão) vai não, né?! Só Pedreira mesmo?”, quis saber um criminoso. À confirmação seguiu-se o alívio e um pedido: “Valeu, tranquilo. Qualquer coisa dá o alô. Valeu”. Também notícias de prisões de rivais do crime eram recebidas em primeira mão pelos altos quadros do CV.

Em uma mensagem, um dos homens do Bope dá a “boa notícia” à bandidagem: “Falaram ki (sic) prenderam o peixe dos alemão (os rivais) agora.” Quem assina é o sargento André Silva de Oliveira. Depois de 26 minutos, o grupo recebe uma prova da informação: a foto de Rafael Alves, o Peixe, e seu braço-direito, Marco Antonio Sena, o Lambão, da favela Vila Aliança, dentro da viatura do Bope — momentos após a dupla ser capturada em um condomínio de classe média da Barra da Tijuca.

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Mensagens obtidas por VEJA mostram certos padrões nas conversas. O cabo Maicon Ricardo Alves da Costa, identificado como Preto 1, mantinha o canal sempre aberto para se comunicar com criminosos identificados como Lord of War, Lili pro Fu, Lobo Mau, Dumbo e Vênus, entre outros. Já “Preto 4” seria, de acordo com a denúncia dos promotores, o cabo Rodrigo Mileipe Vermelho Reis, que apesar de lotado no Bope integrava a escolta pessoal de Marcelo Montanha, chefe de gabinete do secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame. “O Bope é o farol da PM. Esses homens estavam desonrando nossa história e o que cultuamos no nosso dia a dia. A gente precisava dessa resposta”, diz o tenente-coronel Carlos Eduardo Sarmento, comandante da tropa de elite do Rio.

Fonte: Veja

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