O fazendeiro Alexandre Henrique de Castro foi condenado a 12 anos de prisão pela morte do peão Benjamin de Moura Camargo. A sentença foi dada após júri popular realizado nesta quarta-feira (16) em Goiânia. O crime ocorreu em 1998 por causa de uma briga de bar em Jusssara, no noroeste de Goiás.
O condenado responde pelo crime em liberdade e a defesa dele informou que vai recorrer da decisão.
Alexandre é filho do ex-deputado estadual e ex-secretário de Estado Ibsen de Castro e teve o processo encaminhado para a capital por “desaforamento” – o réu tem suposta influência na região original.
O júri começou por volta de 8h30 e acabou por volta de 15h, na 3ª Vara dos Crimes Dolosos Contra a Vida. A sessão foi presidida pelo juiz Jesseir Coelho de Alcântara. Nenhuma testemunha foi arrolada para participar da sessão.
Segundo o juiz, quatro jurados votaram a favor da condenação e três foram contra. A maioria reconheceu a qualificadora do crime por impossibilitar a defesa da vítima.
Acusação
De acordo com o Ministério Público de Goiás (MP-GO), o fazendeiro e a vítima, conhecida como Tião, foram a um bar beber cerveja no dia 26 de fevereiro de 1998. Eles, então, acertaram que a conta seria dividida entre os dois e teriam bebido 20 cervejas.
O desentendimento, porém, ocorreu quando Tião percebeu que outros peões continuariam no local. Ele teria dito que não queria ir embora, dizendo “você quer que eu vá embora para a fazenda para comer o quê? Lá não tem mulher”.
Ainda segundo o MP-GO, o fazendeiro chamou a atenção da vítima para respeitar as mulheres que acompanhavam os outros presentes e isso gerou uma discussão entre os dois. Tião então desistiu de permanecer no bar, e Alexandre pediu que ele lhe entregasse o revólver calibre 38 que carregava.
Somente no quarto pedido Tião teria decidido entregar a arma. Antes, porém, descarregou-a, jogando a munição no chão. Em seguida, outro funcionário da propriedade, Hélio dos Santos, passou a disputar os projéteis com o peão e eles brigaram. A vítima levou uma rasteira e pancadas com a sola da botina na cara, ficando desmaiada.
Depois disso, acusa o MP-GO, a vítima foi colocada na carroceria da caminhonete de Alexandre, que tomou o volante e saiu em alta velocidade em direção a Montes Claros. Depois de percorrer cerca de 50 quilômetros, ele decidiu, junto com Hélio, amarrar uma pedra na perna da vítima, atirar duas vezes nas costas dela e jogá-la de cima da ponte do Rio Claro.
Embora os homens tenham dito que Tião pulou da caminhonete na estrada, perícia apontou que ele tinha sido morto poucas horas depois, vítima de homicídio. Ainda segundo o laudo, o peão foi encontrado com uma pedra amarrada na perna direita e os dois tiros de espingarda nas costas.
Helio dos Santos foi condenado, na época do crime, a 12 anos de prisão, pela Comarca de Jussara.
O promotor José Eduardo Veiga Braga Filho explicou, durante a audiência, que o réu já havia sido julgado e condenado em 2009, pela comarca da cidade de Goiás. Na época, segundo o promotor, o júri reconheceu a autoria do crime, mas, por uma falha técnica, o magistrado não apresentou o quesito se condenava ou absolvia o réu. Por conta disto, segundo ele, o processo foi encaminhado para Goiânia e é julgado, pela segunda vez, nesta quarta-feira.
“Ninguém senta nos bancos dos réus de graça, e ninguém é condenado à toa. Existe a história, o crime, mas, além do crime, o que impressiona é que o homicídio é o tripé da tragédia: cachaça na cabeça, arma de fogo e três rapazes metidos a valentões. Ele [Alexandre] foi condenado, e o comparsa dele também foi condenado. Por uma questão técnica estamos tendo que julgar o Alexandre mais uma vez”, explicou o promotor.
Defesa
Durante o julgamento, Alexandre se defendeu das acusações, alegando que a morte do peão é atribuída a ele por questões políticas, pois, na época do fato, o irmão dele, Itamar de Castro, era candidato a prefeito de Jussara.
“Eu não matei e não posso dizer para o senhor quem matou. Não tive nenhum problema com a vítima. Ele estava tonto e houve uma conversa [de que ele não iria para a fazenda porque não tinha mulher lá]. Eu estava sentado no bar, mas não vi disparo de arma de fogo. Eu tinha tomado duas cervejas. Sai de lá e fui para a fazenda a 3km”, contou.
O réu conta ainda que foi dormir e, no dia seguinte, foi para Goiânia. “Sinceramente, eu não sei porque estou sendo acusado, por que eu estava dormindo. Muitos falam que é pela questão política, porque meu pai era deputado pelo MDB, e não tinham nada para incriminar minha família. Foi em período eleitoral, meu irmão, Itamar Castro, era candidato a prefeito e perdeu, por 20 votos. Eles soltaram documento falando sobre a morte do Tião antes das eleições”, disse o fazendeiro.
Fonte: G1