Alvo de mais de 500 denúncias de abuso, médium foi atendido em duas unidades públicas de saúde e já está em sua cela. Exames não determinaram necessidade de internação
Encaminhado às pressas ao Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) por volta das 20h de quarta-feira (2), o médium João Teixeira de Faria foi submetido a exames laboratoriais e de imagem, além de ter sido avaliado por uma equipe multidisciplinar. Como os resultados não mostraram alterações que indicassem a necessidade de internação – apenas uma infecção de urina -, João de Deus, que reclamava de dores no estômago, tonturas e apresentava sangue nas fezes e urina, foi encaminhado de volta à sua cela no Núcleo de Custódia, em Aparecida de Goiânia, depois que a alta foi assinada às 00h15 desta quinta-feira (3).
De acordo com a Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP), o retorno se deu durante a madrugada e nenhuma condição médica especial foi delineada para a permanência de João nas dependências do Complexo Prisional. Desse modo, o médium foi escoltado à mesma cela de 8m², onde estava em convivência com quatro advogados. A alimentação, cujo almoço se baseia em um prato com arroz, feijão e carne, também não foi alterada.
O advogado Alex Neder, que compõe a defesa de João de Deus diante das mais de 500 denúncias de abuso recebidas pelas autoridades do Ministério Público estadual (MP-GO) e da Polícia Civil (PC), afirma que ainda não falou com seu cliente nesta quinta, de modo que o estado atual de saúde do médium é desconhecido. “Fiquei com ele a tarde toda, enquanto exames de sangue e urina entre outros eram realizados. Fui embora no fim do dia e ele permaneceu acompanhado por familiares e agentes. Hoje é dia de visitas na unidade prisional e a diretoria me pediu para comparecer apenas à tarde. Não sei como ele está”.
Leia a íntegra da nota do Hospital de Urgências de Goiânia:
“O Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) informa que o paciente João Teixeira de Faria, 77 anos, deu entrada na Emergência da unidade às 20h01 desta quarta-feira (2), após encaminhamento da Unidade de Pronto Atendimento Geraldo Magela, no Parque Flamboyant, em Aparecida de Goiânia. Ao ser admitido, João Teixeira estava consciente, orientado e respirando de forma espontânea. Ele passou por avaliação de equipe multidisciplinar e foi submetido a exames laboratoriais e de imagem. Os resultados dos exames não mostraram alterações que indicassem necessidade de internação hospitalar, por isso, o paciente recebeu alta, por volta da 0h15 de hoje (3), para acompanhamento ambulatorial na unidade de origem”.
“Saúde frágil”
O comunicado dos problemas de saúde de João partiu de Neder, que foi convocado pelo cliente à unidade prisional. “Ele pediu para me chamar e me desloquei até lá com minha assistente. Chegamos por volta do meio-dia e ele se queixou das dores e problemas. Ficamos até o diretor chegar para mobilizar a equipe de saúde. O médico entendeu que ele deveria ser examinado em caráter de urgência e ele foi encaminhado primeiramente à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Geraldo Magela, em Aparecida de Goiânia”.
Segundo o advogado, as reclamações de dores no estômago e sangue nas fezes vem ocorrendo desde a prisão do médium, situação esta que “vem piorando devagar”. “O problema no entanto se intensificou ontem, quando também ocorreu sangue na urina. O senhor João é um homem debilitado, tem 77 anos e vários problemas de saúde. O estômago, por exemplo já foi reduzido em razão de uma cirurgia para retirada de um câncer e remédios que ele ingere causam fortes efeitos colaterais. Além disso, ele é um cardiopata, com cinco stents – materiais usados para evitar obstrução do fluxo sanguíneo – no coração”.
Prisão domiciliar
Apesar de relatar a bom tratamento recebido pelo cliente no interior do complexo, Alex Neder ressalta que o Núcleo de Custódia não possui a estrutura adequada para tratar de uma pessoa com as peculiaridades de João. “Tem um quadro clínico de doenças difíceis. É perigoso que ocorra um problema e não terem tempo de oferecer o recurso necessário”.
Por isso, o advogado acredita que João deveria estar em prisão domiciliar. “Ele é um preso provisório. As imputações contra ele não se tratam de crimes cometidos com violência ou grave ameaça, de modo que ele não representa um risco social. Com 77 anos e os problemas de saúde que tem, ele não deveria estar naquele local”.
Para o defensor, o médium deveria estar internado e depois de reestabelecido, deveria ficar em prisão domiciliar em Anápolis, com tornozeleira eletrônica. “Vai responder o que tiver que responder da mesma forma, mas vai estar num local em que se precisar de socorro, ele terá”.
“Receio”
Conforme expõe o advogado, João de Deus estava receoso de ter que passar por procedimentos cirúrgicos sem sua equipe médica de confiança. Embora custodiados tenham acesso – geralmente – à saúde pública, Alex argumenta que o problema de João de Deus “transcende a normalidade”. “Com esses problemas, não é qualquer um que pode operá-lo. Tem problemas graves de coração e estômago. Se for submetido a uma intervenção, quer ter acesso aos médicos da confiança dele, isso é natural”.
Hugo Oliveira
Do Mais Goiás