Uma juíza advertiu um advogado após ele agir de maneira agressiva contra ela e uma advogada durante uma audiência, em Goiânia. A magistrada entendeu que o “tom de voz alterado e gesticulações excessivas” dele demonstravam comportamento misógino. Após ser advertido sobre a atitude, ele respondeu dizendo: “O mundo está muito chato mesmo”.
“A referida afirmação reverbera o desrespeito em relação às mulheres e ao direito das minorias, pois, ao clamarem por tratamento condigno, são deslegitimadas por meio da referida estratégia”, entendeu a juíza Jeovana Cunha de Faria.
Até a última atualização desta reportagem, não havia obtido contato com o advogado para que se posicione.
O caso aconteceu no dia 5 de julho, mas só foi divulgado nesta semana. A advogada Lara Nogueira contou que tudo começou quando ela pediu para ouvir uma testemunha dele e, neste momento, ele não consentiu e começou a mexer no celular. Lara, então, disse que pediu que ele não mexesse no aparelho naquela hora.
“Quando a juíza estava falando, ele começou a mexer no celular e eu educadamente pedi que ele não mexesse. Nesse momento, ele alterou o tom de voz. A juíza falou que ele deveria usar o celular caso fosse urgente e, a partir disso, ele começou a alterar o tom de voz, a gesticular”, disse.
Após isso, a juíza, que é da 4ª Vara do Trabalho de Goiânia, interferiu, pontuando que a advogada estava apenas cumprindo o seu papel, falando baixo e com educação, não havendo motivo para tal comportamento.
“A advogada era muito educada, falando baixo e ele respondendo em um tom inapropriado, ainda mais quando se trata de uma mulher. E ele começou a me tratar da mesma forma, falando grosso, e eu o lembrei que também sou mulher. Quando eu o adverti, ele disse ‘o mundo está muito chato mesmo’”, disse a juíza.
Ao aplicar a advertência, a magistrada ressaltou que “comportamentos congêneres não serão tolerados, tal como indicado no bojo da ata de audiência, situação em que serão tomadas todas as providências legais cabíveis à espécie”.
Após o fim da audiência, o advogado pediu desculpas para a juíza e para a advogada. A magistrada, então, considerou o pedido dele e achou suficiência dar apenas uma advertência.
“A advertência tem um efeito mais pedagógico, mas é, principalmente, para a sociedade como um todo, para mudar uma cultura, porque a imposição não é por forca física ou por falar alto ou grosso. Na Justiça, o que vale é a técnica e o conhecimento, ninguém tem que se impor com esse tipo de brutalidade”, entendeu a juíza.
Fonte:G1