O presidente do Conselho da União Europeia (UE), Donald Tusk, anunciou nesta segunda-feira (13) que os chefes de Estado da zona do euro alcançaram um acordo que permite negociar e ajudar a Grécia com um novo pacote de ajuda financeira – o terceiro em cinco anos.
A cúpula emergencial começou no domingo (12), após o fracasso da reunião de ministros de Economia e Finanças do Eurogrupo, entrou pela madrugada e só terminou pela manhã, após quase 17 horas de discussões.
Os líderes decidiram, por unanimidade, iniciar negociações com a Grécia com o objetivo de manter o apoio financeiro ao país, permitindo – se forem feitas as reformas necessárias – que os gregos se mantenham na zona do euro.
“A reunião alcançou por unanimidade um acordo. Está tudo pronto para um programa de ajuda para a Grécia”, informou Tusk. O Parlamento grego ainda terá de aprovar as reformas exigidas para que as negociações sigam adiante.
“O ‘Euro Summit’ salienta a necessidade crucial de reconstruir a confiança com as autoridades gregas como um pré-requisito de um possível futuro acordo para o programa [de ajuda financeira] ESM [Mecanismo de Estabilização Europeia]. Nesse contexto, o comprometimento das autoridades gregas é peça-chave, e uma implementação bem-sucedida deverá seguir uma política de compromissos”, diz o Conselho Europeu, por meio de nota.
De acordo com o documento, o programa de financiamento grego ficaria entre € 82 e 86 bilhões. Em grave crise, a Grécia tem dívidas superiores a 150% de seu Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de tudo o que é produzido no país.
Tusk disse que a ajuda financeira será dada mediante o compromisso do governo grego de levar adiante “sérias reformas” econômicas. Ainda não foram divulgados detalhes do acordo, mas é esperado que os gregos anunciem até quarta (15) um pacote de reformas econômicas exigidas pela União Europeia.
Tusk afirmou ainda que o acordo costurado para iniciar as negociações para o terceiro resgate da Grécia irá permitir um maior apoio ao país.
“Nós concordamos, em princípio, que estamos prontos para começar as negociações para trazer um programa para o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), que em outras palavras significa continuar a apoiar a Grécia”, afirmou.
Empréstimo-ponte
Os ministros das Finanças da zona do euro vão discutir ainda nesta segunda como manter a Grécia financiada até chegar a um entendimento sobre o terceiro resgate, mas nenhuma das opções sob consideração parece fácil, disseram autoridades.
“A grande questão para hoje é ir para o empréstimo-ponte e eu prevejo que essas negociações serão muito difíceis porque não vejo muitos países com um mandato para dar dinheiro sem qualquer condição”, disse o ministro das Finanças da Finlândia, Alexander Stubb.
Empréstimo-ponte (bridge loan, em inglês) é um tipo de financiamento temporário de curta duração, até que se consiga definir um financiamento de prazo mais longo.
Na próxima segunda-feira (20), a Grécia precisará de € 3,5 bilhões para resgatar títulos que estão vencendo e que são detidos pelo Banco Central Europeu (BCE). Também é preciso resolver suas obrigações já vencidas com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
‘Quem vai ajudar’
O programa de ajuda à Grécia, existente desde 2012 e que expirou no último dia 30 de junho, havia sido firmado por meio de um mecanismo criado pelos europeus para ser temporário, conhecido como EFSF. A Grécia ainda tinha € 1,8 bilhão a receber por meio desse mecanismo, mas o governo recusou as condições de austeridade impostas, que incluíam aumento de impostos e cortes nas aposentadorias.
Com o prolongamento da crise na Europa, o EFSF foi substituído pelo Mecanismo de Estabilização Europeia (ESM, na sigla em inglês), que é permanente e o único canal para novas ajudas das instituições europeias a países em crise. Por isso, o novo pedido grego de ajuda foi direcionado para o ESM.
Condições à Grécia
Seis medidas de austeridade, incluindo reformas fiscal e no sistema de pensões, vão precisar ser decretadas até quarta à noite, e todo o pacote de resgate precisará ser apreciado pelo Parlamento antes que as negociações possam começar.
A Grécia ainda terá que impor mudanças no seu imposto sobre o comércio e no seu sistema de aposentadorias, além de fortalecer a independência da agência de estatísticas.
Após isso, os ministros das Finanças do Eurogrupo se encontrariam novamente na sexta (17) ou no próximo fim de semana para começar formalmente as negociações com a Grécia.
De acordo com a proposta preliminar da Europa, a Grécia precisa de € 7 bilhões até 20 de julho, quando deve fazer um resgate crucial de títulos junto ao Banco Central Europeu (BCE), e de mais € 12 bilhões até meados de agosto, quando vence outro pagamento ao BCE.
‘Dura batalha’
O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, afirmou que seu governo travou uma “batalha dura” durante seis meses e “lutou até o final para um acordo que permitirá a recuperação do país”. “Enfrentamos dilemas difíceis e tivemos que fazer concessões para evitar a aplicação dos planos de alguns círculos ultraconservadores europeus”, disse.
Angela Merkel
A chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou que vai recomendar “com total convicção” ao Parlamento de seu país que autorize a abertura de negociações com a Grécia sobre um terceiro resgate assim que o Parlamento grego aprovar o pacote inteiro e promulgar as leis iniciais.
Merkel não disse quando isso irá acontecer, mas afirmou que fará um relatório positivo ao comitê parlamentar esta semana. É melhor, segundo ela, não antecipar o fim do recesso parlamentar de verão até que tenham certeza que as leis gregas foram aprovadas, disse ela.
Questionada se confia que a Grécia vai implementar o pacote, ela disse: “Será uma estrada longa e difícil.”
François Hollande
O presidente da França, François Hollande, afirmou que o acordo entre Grécia e as instituições “preserva a soberania grega”. Ele qualificou o premiê grego Alexis Tsipras como um “valente” por alcançar entendimento.
Os líderes da cúpula do euro começaram discutir a situação da Grécia no final da tarde de domingo, depois que ministros de Economia e Finanças do Eurogrupo terminaram reunião sem acordo para conceder um novo pacote (o terceiro) de ajuda financeira ao país. “O Eurogrupo terminou. Passamos a tarefa à cúpula de líderes do euro”, disse o ministro das Finanças da Finlândia, Alexander Stubb, que participou da reunião.
Os 19 chefes de Estado da zona do euro, reunidos em Bruxelas, na Bélgica, disseram para a Grécia que a confiança em Atenas deve ser restaurada antes que sejam abertas negociações sobre qualquer novo resgate financeiro para que o país permaneça na zona do euro.
RESUMO DO CASO
– A Grécia enfrenta uma forte crise econômica por ter gastado mais do que podia.
– Essa dívida foi financiada por empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do resto da Europa.
– Em 30 de junho, venceu uma parcela de € 1,6 bilhão da dívida com o FMI. Então, o país entrou em “default” (situação de calote), o que pode resultar na sua saída da zona do euro. Essa saída não é automática e, se acontecer, pode demorar. Não existe um mecanismo de “expulsão” de um país da zona do euro.
– Como a crise ficou mais grave, os bancos estão fechados para evitar que os gregos saquem tudo o que têm e quebrem as instituições.
– A Grécia depende de recursos da Europa para manter sua economia funcionando. Os europeus, no entanto, exigem que o país corte gastos e aumente impostos para liberar mais dinheiro. O prazo para renovar essa ajuda também venceu em 30 de junho.
– Em 5 de julho, os gregos foram às urnas para decidir se concordam com as condições europeias para o empréstimo, e decidiram pelo “não”.
– Os líderes europeus se reuniram esta semana para discutir a situação grega e deram um “ultimato” ao governo grego, exigindo uma proposta até dia 9 de julho.
– A Europa pressiona para que a Grécia aceite as condições e fique na zona do euro. Isso porque uma saída pode prejudicar a confiança do mundo na região e na moeda única.
– Para a Grécia, a saída do euro significa retomar o controle sobre sua política monetária (que hoje é “terceirizada” para o BC europeu), o que pode ajudar nas exportações, entre outras coisas, mas também deve fechar o país para a entrada de capital estrangeiro e agravar a crise econômica.
Fonte: G1