Marcado pelo juiz Sergio Moro para as 14 horas de quarta-feira, em Curitiba, o aguardado interrogatório do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva domina o cenário político da semana, que promete esquentar em pleno outono.
Qualquer que seja o resultado prático da audiência na 13ª Vara Federal, cercada por um forte esquema de segurança, a primeira que colocará frente a frente Lula e Moro, começa a se definir ali o quadro para a sucessão presidencial do próximo ano.
Líder em todas as pesquisas de intenção de voto, mas também em rejeição, o ex-presidente é réu em cinco ações penais, acusado de crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, tráfico de influência e obstrução da Justiça.
Na pauta de quarta-feira, no entanto, entra apenas o processo em que é denunciado por receber vantagens indevidas da empreiteira OAS para a reforma de um apartamento triplex no Guarujá, que Lula diz não ser dele, e no custeio do armazenamento do acervo presidencial.
O embate entre o juiz e o réu já começou neste final de semana, com o vídeo publicado por Moro nas redes sociais e o discurso de Lula num encontro do PT.
Na tentativa de baixar a temperatura e evitar confrontos entre militantes a favor e contra o ex-presidente, o juiz Moro fez um apelo no sábado para que os apoiadores da Lava Jato não compareçam em frente ao prédio da Justiça Federal.
“Esse apoio sempre foi importante. Mas nessa data ele não será necessário. Tudo que se quer evitar é uma espécie de confusão e conflito e, acima de tudo, não quero que ninguém se machuque. Por isso, a minha sugestão: não venham. Não precisa. O interrogatório é uma oportunidade que o ex-presidente vai ter para se defender. É um ato normal do processo”.
Na véspera, Lula havia mandado seu recado:
“Há um pacto diabólico entre a Operação Lava Jato e os meios de comunicação: não importa a verdade, é preciso castigar a imagem. E eu dizia: não façam isso, porque vocês estão enfrentando uma pessoa que respeita a Justiça, que não está acima da Justiça. Mas vocês estão julgando de forma equivocada, com difamações, a pessoa que mais criou condições para combater a corrupção neste país. Mas isso eu vou deixar para quarta-feira…”
Ruas serão interditadas num raio de 150 metros em torno do Fórum, que não terá expediente neste dia, e as visitas aos presos foram antecipadas de quarta para terça-feira.
Os manifestantes ficarão separados em duas áreas do centro da cidade: no Centro Cívico, os defensores da Lava Jato; na chamada “Boca Maldita”, o calçadão da rua 15 de Novembro, os partidários de Lula mobilizados pela Frente Brasil Popular, que prevê a presença de 30 mil pessoas vindas em caravanas de diferentes pontos do país.
Na semana passada, foram espalhados cartazes de outdoor pela cidade, com uma charge de Lula presidiário e a frase: “Curitiba te espera de grades abertas”.
A Executiva Nacional do PT marcou uma reunião em Curitiba para esta terça-feira, que deverá contar com a presença em bloco das bancadas do partido na Câmara e no Senado.
É este o clima de final de campeonato que antecede o encontro mais esperado do ano, mas é apenas a primeira rodada de um longo processo de resultado imprevisível.
Vida que segue.
Em tempo: (atualizado às 11h15)
A juíza Diele Denardin Zydek, da 5ª Vara da Fazenda Pública de Curitiba, determinou multas de até R$ 100 mil para quem se aproximar sem autorização do perímetro de segurança estabelecido para o depoimento de Lula a Moro na quarta-feira. Proibiu também a montagem de acampamentos e estruturas em qualquer rua ou praça da cidade.
Em nota, a Frente Brasil Popular afirmou que, apesar da determinação da juíza, as manifestações serão mantidas. “A medida é uma forma de criminalização dos movimentos sociais porque busca impedir a vinda pacífica e democrática de pessoas que buscam debater os rumos da democracia. Não conseguirão. As caravanas e as atividades serão feitas”.
Fonte: BALAIO DO KOTSCHO
(Foto: Montagem/Agência Brasil/Divulgação)