Uma passageira de 21 anos afirmou que foi impedida de amamentar no Terminal de Ônibus Vila Luzita, em Santo André, Grande SP, na manhã desta terça-feira (10). A dona de casa Thais Magalhães disse ao G1que foi abordada por três seguranças quando foi tentar amamentar seu bebê de um mês.
Segundo ela, os seguranças disseram que ela não poderia amamentar no local por se tratar de atentado violento ao pudor e que chamariam a polícia caso ela insistisse.
“Eu tinha saído de uma consulta médica e já fazia uma hora que eu estava esperando o ônibus quando decidi amamentar meu bebê. Tirei ele do sling, levantei a blusa e estava arrumando o sutiã de amamentação quando três homens (seguranças) me abordaram”, relembra ela.
“Um deles me disse que lá não podia tirar o peito para dar. Quando perguntei o porquê ele disse que era a norma por se tratar de atentado violento ao pudor. E disse que se eu continuasse ele chamaria a polícia”, conta Thais.
“Foi a primeira vez que tentei amamentar em público. (…) Me senti minúscula e coagida, como se eu estivesse expondo meu filho, como se amamentar fosse algo errado. Estou com medo porque sou preta, mulher, mãe solteira e no Brasil a gente sabe bem o que isso quer dizer. Leite materno é o alimento essencial para o bebê. Uma mãe não poder alimentar seu filho é um absurdo. É limitar o acesso ao seu corpo, é um machismo.”
Procurada, a Prefeitura de Santo André, responsável pela administração do terminal, informou que não existe nenhuma lei municipal ou orientação que imponha qualquer restrição à amamentação em locais públicos na cidade. “A administração, por meio da SAtrans (autarquia que gerencia o transporte municipal), já cobrou um posicionamento da empresa concessionária (Suzantur) sobre o ocorrido no Terminal da Vila Luzita.”
A dona de casa conta que tentou argumentar com os seguranças. “Eu perguntei se eu não poderia sair, ir até o banheiro e amamentar lá, mas me disseram que não, que se eu saísse não poderia voltar mais. Eu disse que pagaria de novo para entrar se fosse preciso porque o bebê precisava mamar, mas me disseram que se eu insistisse eles chamariam a polícia. ”
Thais conta que nesse momento, seu ônibus chegou e ela notou que outros passageiros que aguardavam a linha a olhavam com desaprovação. “Um homem estava me encarando com uma cara de ‘Nossa, peito!’, e uma senhora me olhava feio”, diz Thais.
“Entrei no ônibus e fiquei meio sem saber o que fazer. Que eu saiba é permitido amamentar em qualquer lugar. Mas todo mundo ficou me encarando como se eu tivesse feito algo de errado. Me senti minúscula e coagida, como se eu estivesse expondo meu filho, como se amamentar fosse algo errado”, diz ela.
Foi a primeira vez que Thais tentou amamentar o filho em público. “Estou muito assustada por expor meu filho a uma situação constrangedora. Foi a primeira vez que saí de casa desde que dei à luz e tentei amamentar. Estou com medo porque sou preta, mulher, mãe solteira e no Brasil a gente sabe bem o que isso quer dizer.”
Mamaço
Thais tem recebido apoio de outras mães. Um evento criado em uma rede social pretende reunir mães no terminal Vila Luzita na próxima quinta-feira (12), para fazer um “mamaço”. “Minha irmã ajudou a organizar o encontro para que a causa ganhe visibilidade. Nós não vamos deixar que isso passe em branco. Eu estarei lá com certeza. Quando você se sente apoiada, se torna mais fácil”, diz ela.
Thais espera que a sua história ajude outras mães.“Leite materno é o alimento essencial para o bebê. Uma mãe não poder alimentar seu filho é um absurdo. É limitar o acesso ao seu corpo, é machismo.”
Leite materno é o mais saudável, diz ONU
Esta semana, o aleitamento materno voltou a ser assunto na mídia internacional. Uma pesquisa de cientistas britânicos publicada no periódico JAMA Pediatrics e divulgada pela BBC diz que os bebês só devem ser alimentados com leite materno nos seis primeiros meses de vida. De acordo com a pesquisa, os bebês que passaram a comer também alimentos sólidos a partir dos seis meses dormiam 16 minutos a mais por noite.
A recomendação vai contra uma resolução da Assembléia Mundial da Saúde, da ONU, de apoio ao aleitamento materno. Com base em décadas de pesquisa, a resolução diz que o leite materno é mais saudável para as crianças e os países devem se esforçar para limitar o marketing impreciso ou enganoso dos substitutos do leite materno.
Apesar disso, segundo o “The New York Times”, esta semana autoridades americanas tentaram modificar a resolução tentando tirar o trecho que diz que os governos têm que “proteger, promover e apoiar a amamentação” e outra passagem que pedia aos legisladores que restringissem a promoção de produtos alimentícios que muitos especialistas dizem ter efeitos negativos em bebês.
Quando este objetivo não foi alcançado, a delegação americana teria partido para ameaças. O jornal cita mais de uma dúzia de participantes de vários países, que pediram anonimato por medo de retaliação dos EUA.
Fonte: G1