Mar ‘devolve’ refrigerante extinto há 20 anos após ressaca em SP

Refrigerante era vendido na década de 90 e foi extinto. Episódio sinaliza a necessidade da conscientização da população sobre o descarte de lixo nos oceanos.

Uma latinha de alumínio de refrigerante produzida há mais de 20 anos foi encontrada na areia da praia na Ilha das Palmas — Foto: Renato Miranda

Uma latinha de alumínio de refrigerante produzida há mais de 20 anos foi encontrada na areia da praia na Ilha das Palmas, em Guarujá, no litoral de São Paulo. A relíquia, que segundo especialistas percorreu anos e anos no oceano até ser ‘devolvida’, ainda mantém as cores originais e traz uma reflexão sobre o descarte de lixo no litoral brasileiro.

O portuário Renato Lemos Miranda, morador de Santos, encontrou a latinha de refrigerante quando estava caminhando no entorno da Ilha das Palmas, na região de Guarujá. “Ela estava entre as pedras, mais para o fundo. Usei um pedaço de ferro, que deve ter chegado também com a maré, e puxei a latinha”, conta.

A Pop Cola foi lançada em 1995 pela antiga Companhia Antarctica Paulista. O refrigerante marcou época no Brasil, principalmente, nas décadas de 80 e 90. Com a fusão das cervejarias Brahma e Antarctica, em 2000, e que resultou no surgimento da Ambev, o Pop Cola e o Pop Laranja foram retirados da linha de produção.

Miranda conta que lavou a latinha e conseguiu ver a data de validade: novembro de 1998. Ele ficou impressionado em ver que, depois de tantos anos, ainda era possível ver nitidamente as cores e a data do refrigerante. “Fiquei até chateado, não é bacana. Fiz uma postagem nas redes sociais para criar um pouco de senso nas pessoas sobre os impactos que causamos na natureza”, disse.

Para Técia Bérgamo, geógrafa e mestre em Tecnologia Ambiental, professora da Universidade Metropolitana de Santos de Santos (Unimes), não há como apontar a origem da latinha e qual o motivo de ela ter aparecido em Guarujá.

“Quando verificamos algum tipo de resíduo ou lixo, percebemos de forma silenciosa que os oceanos estão sofrendo. Sobre a origem, primeiramente, só pensamos na atividade humana, mas tem a questão das inundações, que contribuiu para levar esse lixo para o mar, os ventos, os rios poluídos. Além disso, nossa região tem as plataformas petrolíferas e o transporte marítimo”, diz.

Segundo Tecia, a latinha não se corrói no oceano e leva mais de 1 mil anos até o processo final de decomposição. Para a geógrafa, o episódio reflete na grande quantidade de lixo que é depositado no meio ambiente ao longo de anos. Ela também alerta para as diversas fontes de impacto.

“Consequência disso é a perda de biodiversidade e a redução de recursos. É resultado da má gestão dos resíduos sólidos nas cidades e a falta de conscientização da população. Há necessidade de políticas públicas para que nenhum material ou resíduo chegue nas praias. O mar está devolvendo o que ele recebeu”, fala a professora.

Miranda resolveu levar a latinha para casa. Ela vai se juntar a latinha de cerveja de 1995 que ele encontrou na Praia do Sangava, em Guarujá, em 2015. O portuário pretende doar a latinha de refrigerante à alguma instituição que realize ações de educação ambiental.

Ele tem como inspiração o pai, já falecido, que realizava mutirões de limpeza e encontrava diversos objetos, hoje expostos no Aquário de Santos. “Encontrar a latinha me fez perceber o quanto nossos impactos podem ser negativos por tanto tempo”, finaliza.

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