A sonda espacial Juno foi absorvida pela imensa gravidade de Júpiter e já orbita o maior planeta do Sistema Solar, a mais de 800 milhões de quilômetros da Terra.
A chegada foi na noite de segunda-feira, quando o satélite artificial da Nasa (agência espacial americana) mergulhou nos intensos campos magnéticos e cinturões de radiação do planeta, atingindo 250 mil km/h e apenas 4.500 km do topo das nuvens de Júpiter.
Os computadores de Juno – protegidos do ambiente hostil e desconhecido de Júpiter por um cofre de titânio de 200 kg – , tiveram apenas 35 minutos para acionar os motores da sonda e desacelerá-la de modo que fosse sugada para iniciar uma série de mais de 30 órbitas em 20 meses.
Antes, apenas a sonda Galileo, da Nasa, havia orbitado o planeta, em 1995. Mas a Galileo não tinha as ferramentas de Juno, e nunca uma espaçonave se atreveu a chegar tão perto de Júpiter: seus intensos cinturões de radiação podem destruir eletrônicos sem a devida proteção.
Isso ocorre porque o poderoso campo magnético de Júpiter atrai e acelera partículas de alta energia (sobretudo prótons e elétrons) lançadas pelo Sol.
Um cálculo chegou a estimar que a sonda tenha sido submetida, em seu mergulho inicial, a uma dose de radiação equivalente a um milhão de raios-X dentários.
Após seu primeiro encontro com o gigante gasoso, a sonda se afastou do planeta em uma órbita elípitica que durará 53 dias. Depois, passará perto novamente em 27 de agosto, quando câmeras e instrumentos científicos começarão a coletar os primeiros – e esperados – dados.
No meio do mês de outubro, deve ocorrer uma segunda frenagem da sonda para diminuir a órbita para apenas 14 dias. A partir daí, as grandes descobertas deverão começar.
A sonda leva o nome da deusa da mitologia romana Juno (equivalente à Hera na mitologia grega, a deusa do casamento), mulher e irmã do deus Júpiter (ou Zeus para os gregos).
Esse “encontro de casal” é uma missão de US$ 1,1 bilhão que buscará, a partir da investigação de Júpiter, desvendar segredos da formação do Sistema Solar e da própria Terra.
Há cerca de 400 anos, Galileu Galilei observou Júpiter por um telescópio primitivo e conseguiu mais provas de que a Terra não era tão especial como se pensava: descobriu, por exemplo, que o planeta tinha pelo menos quatro luas.
Agora, quatro séculos depois, conheça alguns desafios da missão a um dos planetas mais misteriosos do Sistema Solar:
Origem do planeta
A cada aproximação, Juno irá usar seus oito equipamentos de sensoriamento remoto – mais suas câmeras – para investigar dentro das várias camadas gasosas do planeta, medindo sua composição, temperatura, movimento e outras propriedades.
Júpiter, como seu “vizinho” Saturno, pertence a uma classe de planetas chamada gigantes gasosos. Acredita-se que tenha sido formado a partir da mesma massa primordial de hidrogênio e hélio que deu origem ao Sol. Mas pouco se sabe até hoje sobre como foi esse processo.
A ideia é descobrir, a partir de variações sutis no campo gravitacional, se o planeta possui um núcleo sólido – há teorias divergentes sobre a presença dessa estrutura, que faria de Júpiter um planeta rochoso de certo modo semelhante à Terra, mas com uma atmosfera gigantesca. Outra possibilidade é que o núcleo seja formado apenas por gases em alta compressão.
As informações poderão dar pistas sobre a formação de Júpiter: se ocorreu na atual localização ou em outro ponto do Sistema Solar até a migração para a órbita atual.
Como se trata do maior e mais antigo planeta do Sistema Solar, os dados poderão informar sobre a formação de outros planetas, dentro e fora do sistema que abriga a Terra.
Meteorologia
A atmosfera de Júpiter é outro mistério em aberto. Espera-se que Juno traga novas informações sobre as faixas coloridas de nuvens que envolvem o planeta, bem como revelações sobre a origem da chamada Grande Mancha Vermelha (Great Red Spot), uma tempestade gigantesca que se mantém há séculos em Júpiter, embora esteja encolhendo.
Informações coletadas pela sonda Galileu indicaram a forte presença de certos elementos pesados, como nitrogênio e argônio, em quantidades até superiores às verificadas no Sol. A sonda também descobriu pouca água, e pesquisadores querem entender se isso ocorre em todo o planeta.
Uma das buscas mais importantes, portanto, será determinar a abundância de água na atmosfera, um indicador de quanto oxigênio havia na região do Sistema Solar onde Júpiter estava quando se formou.
“A quantidade de água em Júpiter diz muito sobre onde o planeta se formou no começo do Sistema Solar”, disse Candy Hansen, integrante da equipe da Juno.
Em fevereiro de 2018, espera-se que Juno dê um mergulho suicida em Júpiter, encerrando a missão da mesma maneira como a sonda Galileo, em 2003.
O objetivo é evitar qualquer possibilidade de que Juno caia em Europa, a lua de Júpiter que é tida como um dos lugares com maior chance de vida no Sistema Solar, pela presença de água. Um eventual impacto poderia contaminar a água de Europa com micróbios terrestres.
Magnetosfera
Júpiter é conhecido por sua enorme magnetosfera, resultado da colisão entre o campo magnético do planeta e ventos solares supersônicos.
Ao estudar a magnetosfera, astrônomos poderão entender melhor como se geram as agitadas correntes elétricas nas profundezas do planeta.
Para isso, Juno conta com dois magnetômetros, que ajudaram a mapear o campo magnético do planeta com precisão.
“A melhor forma de pensar em um magnetômetro é imaginar um compasso”, explica Jack Connerney, que lida com esses equipamentos na Nasa.
“Os compassos gravam a direção de um campo magnético, mas os magnetômetros têm a capacidade de registrar tanto a direção como a magnitude do campo magnético.”
A Nasa planeja continuar com essa missão até fevereiro de 2018.
Fonte: G1