Câmeras instaladas dentro dos banheiros de uma escola pública no Bairro Jardim Curitiba, em Goiânia, deixaram alunos constrangidos e pais preocupados. A TV Anhanguera falou com exclusividade com estudantes, que preferiram não se identificar, e que comentaram sobre se sentirem “expostas” aos equipamentos (assista acima). Segundo uma advogada, a atitude da escola desrespeita o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
“É surreal a sensação que a gente sente quando entra no banheiro e vê a câmera. A gente fica muito constrangido”, disse uma aluna.
“Não consegui usar o banheiro porque o medo da câmera me pegar era muito grande”, relatou outra estudante.
Segundo os alunos, os equipamentos foram instalados há poucos dias. Uma foto tirada de dentro de uma das cabines do banheiro mostra uma câmera (veja abaixo). De acordo com os estudantes, as filmadoras foram instaladas dentro do banheiro masculino e dentro do feminino.
A TV Anhanguera procurou a direção do Colégio Estadual Nossa Senhora de Lourdes, mas as ligações não foram atendidas. O g1 também ligou para a unidade, por volta das 19h desta segunda-feira (9), para pedir um posicionamento em relação ao caso, mas não obteve contato.
A Secretaria de Estado da Educação (Seduc) informou, em nota, que não existe autorização para o uso de câmeras em banheiros das escolas e que os equipamentos já foram retirados. A Seduc disse ainda que vai investigar o caso.
De acordo com os estudantes, a diretora do colégio mandou uma mensagem em um grupo do colégio em um aplicativo de mensagens informando sobre a instalação dos equipamentos.
“Colocamos câmeras nos banheiros com o objetivo de proteger o patrimônio público e evitar possíveis infrações lá dentro. As câmeras não filmam dentro do box do vaso sanitário. Não precisam se sentir violados”, escreveu a diretora na mensagem.
No entanto, o sentimento entre os adolescentes é de falta de privacidade e de exposição.
“Eu tentei ficar ao máximo escondida da câmera, mas, ainda assim, eu tinha aquela sensação de ser vigiada. Sensação de que a gente está sendo exposta”, contou uma aluna.
Em uma mensagem trocada entre estudantes do colégio, uma menina contou que um homem que trabalha na escola conseguiria ver as imagens da casa dele.
“E ainda tem um funcionário da escola, homem, que tem acesso às câmeras do banheiro. Ele disse que tem acesso a todas as câmeras no celular dele”, escreveu a garota.
Pais reclamam que não foram consultados
Pais de estudantes reclamam que não foram consultados sobre a decisão da escola de colocar câmeras nos banheiros. Uma das mães disse que ficou assustada.
“Eu me assutei quando ela me falou. Eu falei assim: ‘Uai, mas câmera no banheiro? Geralmente, nem em lugar público é dessa forma’. O que assusta é a falta de diálogo, porque eles não pergutaram para os pais o que os pais achariam disso? Não, eles só colocaram”, disse a mulher.
O pai de uma menina de 17 anos disse que, após a situação, está preocupado em deixar a filha ir para a escola.
“Nenhum pai ali se sentiria tranquilo em saber que a sua filha está sendo vigiada e, mais ainda, preocupado em saber quem está vigiando a sua filha”, desabafou o homem.
Decisão desrespeita o ECA
Advogada e professora de direito da família, Goiacy Campos Dunck diz que, ao instalar as câmeras, o colégio desrespeitou o Estatuto da Criança e do Adolescente. A defensora disse ainda que a atitude viola a privacidade dos estudantes.
“[A escola] utilizou um caminho ilegal, criminoso, porque viola a honra e a intimidade. Quando você coloca câmera em um local que viola a minha privacidade, você está me expondo”, disse a advogada.