No município de Caldas Novas, duas famílias vivenciaram situações semelhantes na última semana. Maria Rita não pode ver a irmã depois que a morte foi declarada e nem realizar o velório. Paciente com doença renal crônica, Maria Aparecida de Gonzaga Lopes sofria de diversas comorbidades. Por fim, com pneumonia, foi encaminhada para o Hospital Goiânia Leste, na capital, onde faleceu com suspeita de infecção por coronavírus. Segundo descrito por familiares, foi colocada em um saco plástico e lacrada em um caixão sem direito a despedidas.
A reportagem entrou em contato com a unidade de saúde para confirmar se foi realizado o teste para Covid-19 na paciente e qual foi o resultado, mas ainda não obtivemos retorno.
Segundo relatos do médico que atendia Maria Aparecida na UPA, Eduardo Lisboa, da última vez que ele havia a visto, não havia sintomas de coronavírus. “Ela é uma paciente renal crônica, fazia hemodiálise e a víamos com uma certa frequência aqui na UPA. A última vez que a vi, não havia nada relacionado a coronavírus. Ela também estava com infecção urinária. Na semana passada, por volta de terça-feira, 7. Ela foi transferida para uma UTI particular. Desde então, não sei se permaneceu lá ou se foi transferida para Goiânia. Não tenho essa informação”, contou.
Para o sobrinho da vítima, se ela pegou coronavírus foi no próprio hospital onde faleceu, fato que ele não acredita ter ocorrido. Recolheram as amostras, mas o resultado ainda não foi liberado. “Ela já estava doente há cerca de seis anos. Fazia hemodiálise e o quadro foi agravando. Nos últimos dias, sentia muitas dores, tinha pedra na vesícula, gordura no fígado… Domingo, 5, ela foi internada, chamamos a UPA, mas meu cunhado não concordou em levarem ela, achou que pudesse resolver em casa. Na terça ela não fez hemodiálise, foi para uma UTI particular em Aparecida. Ela já estava respirando por aparelhos e foi transferida para Goiânia, no HCamp, com quadro de pneumonia. De coronavírus ela não tinha nada”, afirmou Maria Rita.
“Lacraram o caixão, enterraram e pronto. Não sei dizer o que aconteceu”, falou. “Estão dando laudo falso”, disse convencida. “Não deixaram ninguém ver. A última a ter contato com ela foi a nora. O filho, que estava viajando, não viu a mãe. Tudo que nos disse era que colocaram em um saco plástico e lacraram o caixão.”
Em outra família, Alexandre foi o último a ver a tia. Benedita Neuza Fiorani tinha diabetes e adquiriu pneumonia nos últimos dias. A paciente foi encaminhada ao Hospital de Campanha (HCamp), onde foi registrada como suspeita de coronavírus e veio a óbito. De acordo com a família, a senhora havia realizado o exame ainda na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), em Caldas Novas, e testado negativo para a Covid-19. Já no HCamp, a amostra colhida ainda não teve o resultado divulgado, por isso não é possível afirmar se a vítima tinha ou não coronavírus.
“Ela faleceu na sexta-feira, 10. Não pudemos fazer velório. Eu tive que ir reconhecer o corpo, ninguém mais viu ela”, recorda o sobrinho Alexandre. “Minha tia tinha pneumonia grave, diabetes e pressão alta. Não tem como ela ter pegado coronavírus, ela esteva em quarentena. Apenas eu tinha contato com ela”, falou.
Em resposta à reportagem, a Prefeitura de Caldas Novas justificou que, independente dos óbitos serem ou não de vítimas da Covid-19, em decorrência da pandemia, os procedimentos para todos os velórios foram alterados. Todos passam a ter limitações de pessoas, conforme recomendações do Ministério da Saúde, da Anvisa e da Vigilância Sanitária. Ainda, informou que conforme o Lacen divulgar os resultados dos testes das vítimas, as certidões de óbito terão as devidas retificações.
Confira a nota da Prefeitura de Caldas Novas na íntegra:
A Prefeitura Municipal de Caldas Novas, através da Secretaria Municipal de Saúde em razão dos questionamentos deste veículo de comunicação sobre ‘relatos de duas famílias do município que tiveram parentes que faleceram na última semana e elas receberam em sua certidão de óbito que a causa da morte suspeita como coronavírus, mas cujos testes deram negativo. Eles reclamam que não puderam enterrar seus entes e que estão sofrendo preconceito, mesmo sem essa ter sido a real causa da morte’ vem a público fazer os seguintes esclarecimentos:
1) A Prefeitura de Caldas Novas, através da Secretaria Municipal de Saúde têm seguido todos os protocolos com recomendações do Ministério da Saúde, da Anvisa e da Vigilância Sanitária, sobre como devem ser realizados os funerais, o manuseio de cadáveres nos hospitais, em domicílio e em espaços públicos.
2) Explica ainda, que os riscos de contágio mudaram a rotina também dos velórios em geral, não somente em casos suspeitos de Covid – 19, mas todos passaram a ter número de pessoas limitado para evitar aglomerações.
2) Sobre as certidões de óbito, é importante observar que em ambos os casos citados, os óbitos ocorreram em hospitais de Catalão e Goiânia e tão logo os resultados foram divulgados pelo Laboratório de Saúde Pública de Goiás (LACEN) foi solicitada à retificação nas respectivas certidões.
Respeitosamente, nos colocamos à disposição para quaisquer outros esclarecimentos.
Prefeitura Municipal de Caldas Novas / Goiás
Fonte: Jornal Opção