Um estudo publicado na JAMA Network identificou uma substância química específica que pode estar contribuindo para o início precoce da puberdade em meninas, um fenômeno que tem gerado preocupação nas últimas décadas devido aos seus potenciais efeitos na saúde. De acordo com a pesquisa, a idade média da menarca, ou primeiro período menstrual, tem diminuído nas últimas gerações.
O estudo, que envolveu dados de mais de 71 mil mulheres, comparou aquelas nascidas entre 1950 e 1969 com as nascidas entre 2000 e 2005, e encontrou que a idade média para o primeiro período menstrual passou de 12,5 para 11,9 anos. Para Susan Pinney, PhD e epidemiologista da Universidade de Cincinnati, essa antecipação da puberdade representa um momento crítico no desenvolvimento, com possíveis impactos a longo prazo na saúde das mulheres.
O risco da puberdade precoce
A puberdade precoce está associada a um aumento no risco de doenças como obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e câncer de mama. Pinney alerta que as exposições ambientais durante esse período podem alterar o padrão normal de desenvolvimento.
Pesquisadores do Instituto Nacional de Saúde (NIH) apontam fatores ambientais como a principal causa desse fenômeno, após analisarem mais de 10 mil compostos presentes em medicamentos e produtos químicos. Dentre esses compostos, um se destacou: o Musk Ambrette, uma molécula aromática encontrada em produtos como sabonetes, detergentes, perfumes e cremes. De acordo com os resultados, esse químico afeta uma área do cérebro responsável pela liberação de hormônios que iniciam a puberdade.
Exposições que podem atrasar ou adiantar a puberdade
Além disso, a mesma pesquisa descobriu que algumas exposições ambientais também podem atrasar a puberdade. Pinney explicou que meninas com níveis elevados de PFOA (um dos PFAS, compostos perfluorados) apresentaram atrasos no desenvolvimento puberal.
Grupos ambientais orientam os consumidores a ficarem atentos ao termo “fragância” nas etiquetas dos produtos, pois ele pode esconder a presença de Musk Ambrette e outros compostos químicos não especificados. É recomendado optar por produtos que listem todos os ingredientes para garantir segurança contra esses compostos potencialmente perigosos.
Outros estudos reforçam a relação entre produtos químicos e puberdade precoce
Outro estudo relacionado, realizado pelo Instituto Nacional de Ciências da Saúde Ambiental dos Estados Unidos, também identificou o Musk Ambrette como um composto comum em produtos de cuidados pessoais que pode estar relacionado ao início precoce da puberdade.
A pesquisa, liderada pela doutora Natalie Shaw, revelou que o Musk Ambrette, um tipo de fragrância sintética, pode afetar uma área do cérebro responsável pela produção de hormônios, desencadeando a puberdade mais cedo. Esse composto é encontrado em cosméticos, ambientadores, detergentes e sabonetes, e já foi detectado em amostras de águas residuais e em peixes de água doce.
O início precoce da puberdade, antes dos 8 anos em meninas e 9 anos em meninos, está vinculado a riscos à saúde a longo prazo, como câncer de mama, diabetes e doenças cardíacas, além de uma estatura reduzida. Segundo um estudo da Escola de Saúde Pública T.H. Chan da Universidade de Harvard, 15,5% das meninas experimentam o primeiro período antes dos 11 anos, e 1,4% antes dos 9.
Os pesquisadores revisaram mais de 10 mil compostos e identificaram o Musk Ambrette como o mais provável responsável por influenciar o início da puberdade. O composto ativa um receptor no hipotálamo, estimulando a liberação de GnRH, um hormônio essencial para a maturação sexual e produção de outros hormônios como estrogênio e testosterona.
Ainda em suas primeiras etapas, o estudo prevê que, no futuro, seja avaliado o impacto do Musk Ambrette em mamíferos e nos níveis sanguíneos de humanos. Enquanto isso, a doutora Shaw sugere que os pais verifiquem as etiquetas dos produtos usados por seus filhos para evitar esse composto.
Fonte: Gazeta Brasil