O impeachment da presidente Dilma Rousseff pode não ser de todo ruim para o PT, avalia o senador Cristovam Buarque (PPS-DF), que foi filiado ao partido entre 1990 e 2005. “Seria a única forma de sair disso: ir para a oposição”, disse ao UOL.
Para o parlamentar, os problemas do partido na administração do país começaram na metade de 2003, o primeiro ano de mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na época, Cristovam era ministro da Educação. “Lula, a partir de um certo momento, perdeu o vigor de transformar a sociedade. E aí optou pelo que a Dilma também optou, que é o poder pelo poder.”
A seguir, leia os principais trechos da entrevista concedida pelo senador por telefone.
UOL – O senhor, quando ainda era do PT (1990-2005), foi tirado do cargo de ministro da Educação no começo do segundo ano de gestão de Lula. O aviso foi feito por telefone, durante sua viagem de férias por Portugal. A justificativa, nos bastidores, era de que o então presidente não queria mais acadêmicos e suas ideias, mas gente que apresentasse resultado em seus ministérios. Por isso, Lula pegaria uma “turma boa da Câmara”. Pesou também o fato de o senhor ter feito críticas à gestão de Lula. O que essa situação mostrou ao senhor sobre o que seria, a partir daquele instante, a administração petista na presidência?
Cristovam Buarque – Creio que houve uma inflexão em meados do primeiro ano do governo. O ministério do Lula perdeu o vigor transformador. Lula perdeu isso. Lula, a partir de um certo momento, perdeu o vigor de transformar a sociedade. Transformar a sociedade na direção de escola de qualidade para todos, na busca de uma indústria baseada em alta tecnologia. E daí perdeu a perspectiva do vigor transformador e de fazer uma política sem corrupção. E aí optou, pelo que a Dilma também optou, que é o poder pelo poder. Então, em vez de querer compor uma base política de parlamentares que ajude a fazer as reformar, quis compor uma base a ficarmos no poder. Você vê a diferença? E o Lula resolveu optar por como ficar no poder. Percebi isso quando ele não ia dar apoio para reformas na educação, que o que ele queria mesmo era facilitar a entrada de pessoas na universidade. Isso não transforma. Isso é bom, mas não transforma. O que transforma é colocar o filho do pobre em uma escola tão boa quanto a do filho do rico.
A situação do país muda com uma possível saída de Dilma da administração do país? E se ela continuar?
Eu acho que o PT torce para que o impeachment passe porque… imagine 2018: eu acho que seria bom para o partido, para o Lula. Essa seria a única forma de sair disso: ir para a oposição. Mas, então, por que a Dilma não renuncia? Porque, se renunciar, não vai ter a bandeira do golpe. Isso tem que acontecer passando a ideia de que eles lutaram o máximo possível. A Dilma, não. Acho que ela quer continuar.
Eu sou pessimista tanto com a Dilma quanto com o [vice-presidente Michel] Temer, com uma diferença: com o Temer entrando, haverá um alívio. Temer poderá vir a ser um alívio. Eu não estou dizendo que será.
‘EU ME PREOCUPO COM O DIA SEGUINTE’, DIZ CRISTOVAM
Fonte: Uol