Inédito no estado do Rio, o tratamento com a pele do peixe reduz os riscos de infecção e também diminui a dor do paciente
O Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro do Rio, começou a usar a pele de tilápia no tratamento de queimaduras. A unidade é a primeira do Estado do Rio a utilizar este procedimento, conhecido para fãs de séries como “Grey’s Anatomy” e “The Good Doctor”, sendo iniciado em dezembro passado no Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) como parte do estudo multicêntrico liderado pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
Duas pacientes com queimaduras graves foram tratadas logo no primeiro mês com a pele do peixe de água doce, e apresentaram cicatrização mais rápida e com menos queixas de dor. A unidade do município é um dos hospitais brasileiros que participam da parte clínica do estudo, desenvolvido desde 2014 pelo Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos da UFC, dentro das normas do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa.
A pele da tilápia passa por um processo de preparo e desinfecção que inclui exposição a raios gama (radiação) para ser utilizado nos pacientes. Em 2019, o material foi apresentado ao presidente Jair Bolsonaro e ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e, após receber a licença definitiva da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), pode ser utilizado para o tratamento de queimaduras em todo o Sistema Único de Saúde (SUS).
“A pele de tilápia é um curativo biológico e tem apresentado resultados terapêuticos melhores até do que a pele de cadáver. O material é hidratado e aplicado diretamente sobre as queimaduras, sem a necessidade de pomadas ou outros insumos. Conforme as lesões vão cicatrizando, a pele de tilápia vai se soltando. Os pacientes relatam coceira neste período final, o que é uma reação típica do processo de cicatrização”, explicou a chefe do CTQ do Hospital Municipal Souza Aguiar, a cirurgiã plástica Irene Daher.
A pele de tilápica é rica em colágeno, resistente e elástica, auxiliando na cicatrização de queimaduras de diferentes níveis. A atadura tampa toda a ferida, vedando e aderindo como se fosse uma cola, podendo permanecer no local por vários dias. Isso faz reduzir os riscos de infecção, evita a perda de líquidos dos tecidos e também diminui a dor do paciente, que é inevitável no tratamento tradicional das queimaduras, com curativos feitos de gazes e pomadas e que normalmente devem ser trocados no máximo a cada três dias. O curativo com a pele de tilápia é trocado somente a cada 10 dias, reduzindo, além do sofrimento do paciente, o custo do tratamento em até 50%.
No Hospital Souza Aguiar, inicialmente a pele de tilápia está sendo usada em pacientes com escaldaduras provocadas por água fervente em até 30% do corpo. Duas pacientes dentro desses critérios, com queimaduras de 2º grau, foram tratadas ainda em dezembro. Uma delas se acidentou no dia 15 e, com 15% do corpo queimados, só pôde passar o Natal em casa graças à pele de tilápia. Com o tratamento tradicional, precisaria ficar internada para trocar os curativos diariamente. A segunda paciente sofreu escaldadura em 25% do corpo enquanto preparava a ceia de Natal, no dia 24, e apesar da gravidade dos ferimentos, se recuperou satisfatoriamente.
Fonte: Jornal O Dia