‘Quero ser presidente do Brasil’, anuncia Cabo Daciolo

Expulso do Psol, o deputado federal comenta propostas polêmicas como sua defesa dos PMs do caso Amarildo

Rio – O deputado Cabo Daciolo irá levar os PMs envolvidos no desaparecimento, tortura e morte de Amarildo de Souza, que sumiu após ser levado à sede da UPP da Rocinha, em julho de 2013, para serem ouvidos na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Expulso do Psol há uma semana, ele está livre para seguir com propostas polêmicas: além da defesa dos acusados no caso do pedreiro, ele apresentou Proposta de Emenda à Constituição para acrescentar o trecho “todo poder emana de Deus” à Carta. Sem partido, ele diz que seus próximos passos na política respeitarão os desígnios divinos, garante que será presidente do Brasil, em 2026, e ensaia uma aproximação com a família Bolsonaro.

O senhor acredita que houve perseguição dentro do Psol pelo fato de o senhor ser apadrinhado da ex-deputada estadual Janira Rocha, que teve seu processo de expulsão do partido arquivado?

Pode ser, mas foi Janira quem esteve com o movimento dos bombeiros. Fiz campanha sem ter tempo de TV, sem ter direito à nada. Eles achavam que eu ia fazer só 10 mil votos para crescer os candidatos deles.

O Psol se engajou na campanha ‘cadê o Amarildo’ quando ele desapareceu em 2013, tanto que a direção do Rio pediu sua expulsão, em março deste ano, depois do senhor defender os PMs em plenário. Eles são inocentes?

A questão não é essa. Já consegui autorização para levar 14 PMs envolvidos no caso para prestar depoimento na Comissão de Direitos Humanos na Câmara dos Deputados. Deve ser no máximo até a semana que vem. Tem que ouvir a versão deles. Ninguém pode ser considerado culpado até sair a sentença. Como você vai ficar preso preventivamente por um ano e sete meses? O Marcelo Freixo, presidente da Comissão aqui no Rio, ouviu os familiares. E o outro lado? Podem ser inocentes.

O senhor vai levar a viúva e os seis filhos de Amarildo para serem ouvidos em Brasília também?

Posso levar. Os Direitos Humanos têm que ouvir todos os lados. Há provas de que foram traficantes que mataram Amarildo, que queriam prejudicar o major Edson Santos no comando da UPP da Rocinha. Eu fui preso injustamente em 2011 por conta da greve. Sei como é isso.

A Justiça Militar confirmou neste ano que o major Edson Santos subornou testemunhas para que elas mentissem. Há laudos do Ministério Público e da Polícia Civil provando que as gravações com vozes atribuídas a traficantes são de PMs.O senhor leva esses fatos em conta?

Da onde veio isso? Quem me garante que isso não é mentira? No dia do sumiço do Amarildo, esses policiais prenderam bandidos sem dar um único tiro, porque o major Edson estava em harmonia com a comunidade.

Mesmo com os relatos anteriores de que a tortura era método na atuação dos PMs da UPP Rocinha?

Precisamos analisar a veracidade disso.É difícil construir uma verdade, mas criar uma mentira é fácil. Fica sendo sempre a palavra de um contra a de outro.

Nesta semana, morreram dois jovens no morro do Dendê, na Ilha do Governador, depois de tiros de um policial civil. Este ano, tivemos o caso do menino Eduardo, no Complexo do Alemão, morto por um tiro de fuzil suspeito de ter vindo da arma de um PM. Esses policiais também irão a Brasília?

Lógico. Entenda: o Rio de Janeiro vive uma guerra civil. Muitos policiais estão lotados em favelas sem jamais terem pisado numa comunidade; sem sequer ter dado um tiro. São preparados por menos de um ano e vão para o meio da guerra. Imagina você ver um amigo seu com um tiro na cabeça. Não justificam esses erros, mas estamos numa guerra em que pobre está matando pobre, PMs morrem todos os dias, depois de trabalharem em regime de escravidão, porque é o que está acontecendo no Rio de Janeiro. Não dá para pensar na carreira do policial sem a exigência do curso superior, de um plano de carreira única, de um salário mais justo.

A bancada do Psol pediu para que o senhor não apresentasse a PEC para colocar na Constituição que “todo poder emana de Deus”.

O texto veio na minha mente, fui colher assinaturas e vieram para mim: ‘Pô Daciolo, não coloca essa PEC não’. E eu pedi para fazer o debate com a militância, mas não me deram essa chance. Depois, fiz o discurso sobre o Amarildo e vieram dizer que, pela PEC e pela fala, abririam processo para me expulsar. Aí eu resolvi protocolar, pensando o seguinte: ‘Se eu não colocar e for expulso, vou ficar mal comigo e com Deus’. Todo mundo sempre soube que eu falo de Jesus Cristo nos meus discursos, desde a greve dos bombeiros em 2011.

O senhor já sabe para qual partido vai?

Fui sondado por todos, tenho diálogo bom com todo mundo.Eu gosto de orar, aguardar e dar os passos. Tenho que falar com Deus antes de dar um passo concreto. O que acontece é o que Deus permite, e eu sei que serei senador, governador do meu estado, e presidente do Brasil daqui a 12 anos, com ou sem partido. Existem países que político não precisa de partido.

Suas polêmicas com o Psol começaram quando o senhor postou ‘selfie’ com o deputado Jair Bolsonaro (PP), opositor declarado do seu ex-partido. Comporia com ele?

Tenho afinidade com ele, assim como com todos. O primeiro deputado que procurou os bombeiros foi o Flávio Bolsonaro, filho dele e meu amigo. O mínimo que posso fazer é reconhecer esse gesto de grandeza dele. Depois veio a Janira. Aquela greve colocou Marcelo Freixo e Bolsonaro lado a lado.

Quem perdeu mais nesse imbróglio todo? O senhor ou o Psol?

Não consigo avaliar isso ainda; é muito recente. Não sei o que sou para o partido.De repente eles vão dizer “tudo, menos o Daciolo”. Perderam a cadeira no colégio de líderes da Câmara. Eu não guardo mágoa nenhuma do Psol.

Fonte: O Dia

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